José Geraldes

Esperança de Paz


A economia, segundo previsões de analistas especializados, vai bater no fundo. E, se já se vive em recessão, os tempos posteriores adivinham-se catastróficos

Os sinais da guerra do Iraque andam no ar. Ingleses e norte-americanos já bombardeiam, desde há tempos posições militares iraquianas. Diariamente tropas dos Estados Unidos são transportadas para as bases do Golfo Pérsico.
Os inspectores das Nações Unidas fazem um trabalho de formiga para descobrirem armas de destruição maciça que comprometam o ditador iraquiano. Não se esqueça que Saddam tem armas químicas e bacteriológicas usadas em massacres contra os seus compatriotas curdos e xiitas. E que abateu o próprio genro por se ter transformado em opositor da sua política sanguinária. Resta saber se tem armas atómicas.
A União Europeia, sob divisões internas, chega a um consenso diplomático de um possível uso da força para desarmar o Iraque. O eixo Paris-Berlim quer fazer de contraponto aos Estados Unidos da América com a proposta da guerra como último recurso. Por causa da defesa da Turquia, a NATO (Organização militar do Atlântico Norte ) sofre a primeira crise da sua história.
As opiniões públicas mundiais manifestam-se contra a guerra. Intelectuais promovem abaixo-assinados. Artigos saem jornais do agrado de todos : os que defendem a intervenção militar ou o desarmamento pacífico. Mesmo a comunicação social toma posição contra e a favor até com artigos entusiásticos.
Já se calculou o número possível de mortos. As consequências decorrentes da que agora se chama “guerra preventiva”, consideram-se incalculáveis. A economia, segundo previsões de analistas especializados, vai bater no fundo. E, se já se vive em recessão, os tempos posteriores adivinham-se catastróficos.
Para impedir o “monstro”, como chamava à guerra o clássico António Vieira, ergue-se uma figura fisicamente frágil nos seus 82 anos mas dotado de uma força interior inquebrantável : o Papa João Paulo II.
Mesmo sabendo que há decisões tomadas, a 13 de Janeiro, num discurso ao Corpo Diplomático acreditado no Vaticano dizia : “ Não à guerra! Ela é sempre uma fatalidade. É sempre uma derrota da humanidade. O direito internacional, a solidariedade entre os Estados, o exercício tão nobre da diplomacia são os meios dignos do homem e das nações para resolver as suas contendas.” E, numa referência concreta : “ E que dizer das ameaças de uma guerra que se poderia abater sobre as populações do Iraque –terra dos profetas- populações já extenuadas por mais de 12 anos de embargo ?”
Mais recentemente, renova o apelo : “ Não nos podemos deter perante os ataques do terrorismo, nem diante das ameaças que se perfilam no horizonte. Há que não se resignar como se fosse inevitável a guerra.”
Na linha de coerência das suas palavras, o Papa envolve-se em esforços para evitar a guerra. Assim envia o octagenário Cardeal Etchegaray a Bagdade com uma mensagem pessoal para Saddam Hussein no sentido de o convencer a dar toda a colaboração aos inspectores da ONU e a cumprir as suas resoluções.
Concede uma audiência a Tariq Aziz, vice-primeiro ministro do Iraque e de religião cristã que se compromete a dar seguimento aos desejos de João Paulo II. O encontro no Vaticano com Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, inscreve-se no esforço derradeiro para que a guerra possa, “in extremis” ser evitada.
Estes gestos do Papa são importantes dada a facilidade dos seus contactos com os Estados Unidos e o Iraque. E que certamente terão consequências.
Mas o Papa é realista. Numa das alocuções do meio-dia da Praça de São Pedro, deixa palavras proféticas : “ As dificuldades que se apresentam no horizonte, levam-nos a pensar que só uma intervenção do Alto pode fazer esperar um futuro menos obscuro.”
A actuação de João Paulo II leva-nos a acalentar o sonho da esperança da paz.