A diferença de salários entre mulheres e homens foi uma das questões abordadas
Debate no PCP
Em defesa das mulheres

A mulher e o seu papel na sociedade actual estiveram em discussão. As consequências do Pacote Laboral do Governo e a discriminação no trabalho foram os temas centrais.


Por Daniel Sousa e Silva


A Comissão Distrital de Mulheres do PCP de Castelo Branco organizou, no dia 1 de Março, um debate subordinado ao tema "Itinerários da discriminação da mulher trabalhadora - Emprego/Desemprego: Que Fazer?". A iniciativa, realizada na sede do PCP da Covilhã, teve como principal objectivo dar a conhecer a condição da mulher portuguesa, enquanto cidadã e trabalhadora nas várias zonas do País.
"As mulheres têm sido as mais prejudicadas com as recentes vagas de despedimentos", constata Anselmo Dias, colaborador do Grupo de Estudos na área das mulheres do PCP. No ano de 2001, a estatística oficial apresenta, 117 mil mulheres desempregadas mas actualmente esse número ascende já às 250 mil.
A diferença de salários entre mulheres e homens é outro dos principais problemas levantados por Anselmo Dias: "Em termos nacionais, as mulheres ganham menos 38 por cento do que os homens, segundo dados recolhidos em 234 mil empresas." Outro dado a ter em atenção, de acordo com Anselmo Dias, é que"68 por cento das pessoas que recorrem ao Rendimento Social de Inserção são mulheres".
Augusto Praça, advogado e dirigente sindical, analisou as consequências da futura aplicação do novo pacote laboral na situação e nos direitos das mulheres trabalhadoras. Salientou a ideia de que "a igualdade entre homens e mulheres é um factor de progresso". Segundo o dirigente, a melhor forma de se promover a equiparação é "através da criação de normas legais". A posição do actual Governo "é de lamentar", pois "há um retrocesso de décadas" em relação aos direitos das mulheres, argumenta Augusto Praça.
A mentalidade portuguesa é, para o dirigente sindical, "mais uma barreira a ultrapassar". "Num cargo de chefia, quando uma mulher erra é porque é mulher e o homem quando erra é porque é humano", exemplificou.
Uma das maiores dificuldades, acrescentou Augusto Praça, é que "os homens continuam a pensar que as mulheres não devem receber o mesmo que eles".
A representante da União dos Sindicatos de Castelo Branco presente no debate, Maria Jesus Amorim, sublinhou a importância da igualdade entre ambos os sexos: "As sociedades precisam equitativamente de homens e mulheres, para se conseguir uma sociedade mais justa, a nível laboral e social". No que respeita aos sindicatos, Maria Jesus Amorim julga que se "tem dado passos muito importantes na luta pelos direitos das mulheres".

A História é culpada

Heitor Duarte, sociólogo e docente da UBI, apresenta a ideia de que a actual situação das mulheres está relacionada com a formação da sociedade capitalista, já que esta "incorpora em si mesma uma estrutura de dominação masculina". "A maioria dos fundadores e modelos deste tipo de sociedade, criada no século XIX, eram homens", justifica-se.
O sociólogo defende a existência de muitas leis de defesa dos direitos das mulheres. O problema é "não haver uma efectiva prática social das leis". A falta de reconhecimento histórico das mulheres nas lutas laborais é "um reflexo da forma como o sexo feminino é encarado". Heitor Duarte lembra que "já em 1907, na primeira greve geral da Covilhã mais de metade dos manifestantes eram mulheres, mas o que ficou para a história foram os nomes dos homens".
O debate fez-se na Covilhã, esclarece Delfina Brás, uma das organizadoras, "com o intuito de abrir as mentalidades, uma vez que há menos adesão sindical das mulheres no norte do que no sul do distrito".
A Sala dos Continentes do PCP, maioritariamente preenchida por mulheres, não encheu para um debate que teve apenas três intervenções do público.