Congresso junta 200 rádios locais
Vozes do Interior obrigadas à profissionalização


Um novo modelo, mais empresarial, em que se aposta na formação e profissionalização das pessoas vai ser implementado nas rádios locais. A garantia foi deixada pelo Governo, no passado fim-de-semana, num congresso em que o papel da rádio, para dar voz ao Interior, foi lembrado por alguns.

Céu Lourenço
NC/Urbi et Orbi


A Associação Portuguesa Radiodifusão, em colaboração com as rádios Urbana, Beira Interior e Cova da Beira, levou a cabo o nono Congresso Nacional de Radiodifusão, uma iniciativa que decorreu entre sexta feira, 21 e domingo, 23, perante a presença de cerca de 200 responsáveis de rádios locais e nacionais.
José Faustino, presidente da APR, considera que as rádios, como serviço público que prestam às populações, devem ver o Estado "compensar este serviço". Por outro lado "se caminhamos no sentido de rádios mais comerciais e actuantes em relação ao mercado, esquecendo o serviço público, os apoios já não serão necessários". O responsável da APR salienta que "a legislação é muito restritiva e impõe muitas obrigações de serviço público às rádios. Só que o legislador teve a mão pesada para legislar nesse sentido, mas teve a mão ligeira para as contra - partidas". José Faustino, não entende como é que "numa altura em que tudo converge para uma única plataforma, nós estejamos regulados por três organismos diferentes". E lembra que "na situação difícil em que estamos a atravessar, as novas plataformas digitais e os meios que a rádio pode utilizar, requerem investimento e formação profissional, sendo estas algumas das componentes que nos preocupam".
O presidente da APR salienta que perante a evolução que se atravessa a todos os níveis "a rádio não está despegada da realidade do País, nem dos ouvintes, pelo que tem de surgir um produto radiofónico para que as pessoas a oiçam, sendo pois necessário começar a pensar nos produtos radiofónicos do futuro e, paralelamente ver que serviço público temos, quem o presta e os seus conteúdos".
Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, Joaquim
Morão, elogia o papel preponderante das rádios locais. "Foi através destas que foi possível dar voz ao Interior. Sem as rádios não sei o queria das nossas terras para levar a mensagem às populações" afirma o autarca albicastrense. Por outro lado, diz Mourão "não podemos esquecer que as rádios vão até aos mais distantes e por vezes esquecidos lugares para que estes possam também ter voz, contribuindo para o desenvolvimento das dessas localidades".
Já o Governador Civil de Castelo Branco, José Pereira Lopes, considera que "o conceito demasiado economicista dos meios de comunicação social, subverte e esmaga alguns pilares fundamentais que devem nortear este sector". Pereira Lopes, lembra o elevado alcance que a rádio teve ao longo dos tempos e em todas as áreas. "A telefonia, como diziam os nossos avós, é uma companhia permanente neste Interior tão abandonado e esquecido. E as rádios contribuem para atenuar estes efeitos tão dramáticos da solidão", lembra o Governador Civil.

Comunicação social com problemas financeiros

Presente neste 9º Congresso Nacional de Radiodifusão, o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Presidência, começou por lembrar que as rádios locais, "tem dado provas de folgo e de capacidade para se modernizarem e, captarem novos públicos". Feliciano Barreiras Duarte lembra que nestes últimos onze anos, o Estado "gastou 215 milhões de euros com a comunicação social regional" só que deste valor "apenas 7,5 milhões é que se destinaram às rádios locais". Segundo o governante, "temos a consciência que no panorama nacional, que as rádios têm sido os meios de comunicação social, menos subsidiados, apesar de empregarem mais de 5500 pessoas".
Os problemas que as rádios atravessam a nível nacional, não deixa indiferente o Governo. "São os problemas comuns a todo o sector da comunicação social, numa conjuntura de quebra de receitas publicitárias, agravadas por um mercado altamente concorrencial e com grande número de estações".
Barreiras Duarte salienta que "temos em marcha uma reforma do sector que queremos concretizar a curto e a médio prazo", adiantando que "temos falado com associações e analisado várias propostas que também individualmente muitos dos operadores de mercado nos têm feito chegar". Lembrando o périplo que está a fazer pelas capitais de distrito, onde tem reunido com os responsáveis da comunicação social regional, o Secretário de Estado, diz que o objectivo é criar condições, para "um novo modelo
empresarial, em que o Estado não seja o financiador, mas também que não se limite a um papel regulador. Um modelo que assente no profissionalismo, na independência, na qualidade, no mérito e acima de tudo que premei o risco".
Relativamente à alteração à lei da rádio, o governante lembra que "temos legitimidade para decidir, mas estamos disponíveis para ouvir e avaliar as propostas que nos forem apresentadas, mas de forma própria. Não gostamos de receber pressões e mensagens nomeadamente através de alguma comunicação social que utiliza essa metodologia com este Governo. Não devem ter percebido que as coisas mudaram".
A necessidade de reclassificar as rádios, promover incentivos ao desenvolvimento de parcerias estratégicas, definir um novo modelo de regulação, iluminar definitivamente a fiscalização para acabar com a concorrência desleal, incentivar o apoio à contratação de jornalistas, criar o plano de formação para o sector e resolver o problema da publicidade
institucional são alguns dos objectivos do Governo.