A Câmara da Covilhã afirma que dentro de três anos não haverá um metro cúbico de esgoto lançado no Rio Zêzere
Caderno de encargos aprovado
Serviço de saneamento será entregue a privados

Durante 30 anos, o serviço de saneamento do concelho da Covilhã será concessionado a um empresa privada. Miguel Nascimento considera tratar-se de "um caminho perigoso" uma vez que os consumidores e as próximas autarquias serão os mais prejudicados em termos financeiros.


Por Catarina Rodrigues


A Câmara Municipal da Covilhã aprovou na última reunião do executivo, o caderno de encargos para concessão durante 30 anos do sistema de tratamento de esgotos do concelho. O concurso prevê a construção de quatro Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR's) entre as quais a da grande Covilhã. Está também prevista uma intervenção nas ETAR's já existentes que na sua maioria só têm tratamento primário. A construção e a instalação das infra-estruturas necessárias orçam os sete milhões de euros. A empresa ficará também responsável pela manutenção de todo o sistema o que rondará um custo de 25 milhões e meio de euros.
Alçada Rosa, vice-presidente da autarquia considera que esta solução é "a mais vantajosa". Os Serviços Municipalizados da Covilhã (SMAS) estimam pagar à empresa seleccionada 30 cêntimos por cada metro cúbico de água facturada. As empresas candidatas terão por base o valor facturado pelos SMAS aos consumidores em 2002 (um milhão e 700 mil metros cúbicos de água).
Outra das propostas em cima da mesa era a da empresa Águas do Zêzere e Côa. O preço anunciado por esta entidade é de cerca de um euro por metro cúbico de esgoto contado à entrada da ETAR. Esta hipótese foi excluída pela autarquia porque segundo Alçada Rosa "toda a indústria da Covilhã utiliza águas próprias e até casas particulares, por isso iríamos pagar cerca do dobro".
A Câmara da Covilhã decidiu avançar com a solução do Concurso Público Internacional mas o vereador da oposição Miguel Nascimento considera tratar-se de "um caminho perigoso". O socialista absteve-se na votação e tem muitas dúvidas sobre a proposta apresentada. Nascimento sublinha que esta concessão a privados será "um fardo pesado para as futuras autarquias que terão enormes dificuldades para além do endividamento financeiro da Câmara".
O vereador explica que deveria ser a Câmara a continuar a investir de forma a cobrir totalmente o concelho ao nível do abastecimento, tratamento de água e saneamento. Outra das alternativas sugeridas por Miguel Nascimento era a integração da Covilhã no sistema da empresa Águas do Zêzere e Côa. Mas para Alçada Rosa estas duas hipóteses são "penalizantes para o município" e a única alternativa seria "não tratar os esgotos".

Consumidor pagará mais

Actualmente apenas 50 por cento dos esgotos do concelho são tratados

Após o período de concessão por 30 anos todas as infra-estruturas revertem para a Câmara da Covilhã sem custos adicionais. "Por isso a autarquia não perde o investimento feito até aqui", lembra Alçada Rosa explicando que na empresa Águas do Zêzere e Côa, no final do contrato, as Câmaras podem comprar o equipamento.
Miguel Nascimento sublinha que "no futuro, ao receber a facturação, a Câmara terá que ir buscar verbas ao consumidor" para pagar os serviços prestado pela empresa seleccionada. Alçada Rosa refere que uma das hipóteses é que, obedecendo às normas comunitárias "o consumo seja pago pelo poluidor". Mas o vice-presidente da autarquia sublinha que nada disso ficou determinado e "até é possível que os custos saiam dos cofres da Câmara".
Nascimento enaltece ainda a importância de "não tocar nos direitos dos trabalhadores ". Os SMAS definiram que os trabalhadores afectos a este tipo de trabalho serão reajustados noutras áreas e não passarão para a empresa privada embora a legislação o permita.
Após a aprovação, o caderno de encargos vai agora ser remetido a uma entidade reguladora que tem um mês para dar um parecer não vinculativo. O caderno de encargos tem que ser submetido à votação na Assembleia Municipal. Depois de aprovado é lançado a Concurso Público Internacional o que deverá acontecer dentro de aproximadamente um ano.
Actualmente, 98 por cento do concelho da Covilhã é servido com rede de saneamento, mas apenas 50 por cento dos esgotos são tratados. O município prevê que dentro de três anos não exista um metro cúbico de esgotos lançado no rio Zêzere.