A vida de um grupo de universitários é retratada neste trabalho
Grito de revolta

El Despertar retrata um grupo de universitários com "ganas de vivir" que se bate por derrubar leis, regras e preconceitos instituídos.


Por Ana Rodrigues


Foi perante uma plateia bem composta e atenta que a peça El Despertar subiu ao palco do Teatro-Cine da Covilhã na passada quarta feira, 19. Os protagonistas da noite foram o grupo espanhol Maricastaña, a Aula de Teatro Universitária de Ourense.
Este espectáculo, inserido na sétima edição do Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior, é uma encenação de Fernando Dacosta inspirada na obra de Frank Wedekind, Despertar de Primavera. O encenador, que é também professor de teatro e actor profissional na Galiza, diz que antes de mais se pensou no público a quem a peça se dirige, "um público jovem". A preocupação seguinte foi adaptar o texto de forma a que os espectadores se identificassem com as inquietações das personagens,. O objectivo, conclui Fernando Dacosta, "era conseguir algo procurado há mais de dois mil anos, a catarse".
El Despertar fala de um grupo de universitários que se vêem confrontados com múltiplas situações e algumas adversidades a que tentam bater o pé. Pelo meio são abordados temas como o sexo, a droga, a amizade, a morte, a liberdade ou a procura de trabalho. Durante o espectáculo aparecem também cartazes com alusões à maré negra e à guerra onde se pode ler "Nunca Más!" e "Não à guerra". Segundo María Díaz, actriz, "tratam-se de coisas que estão a acontecer agora na Galiza e no mundo e sobre as quais devemos reflectir". Para o encenador, a peça fala sobretudo sobre educação, o despertar dos homens e os conflitos que isso gera. "Chega o momento em que os homens despertam para a vida, em que lutam contra o poder", sublinha. Daí o título escolhido para a peça.
Mas esta não é uma luta de um herói intocável, sem mácula. Apesar da rebelião e rebeldia sobre o lema "desobediência civil ou morte" as personagens padecem com as suas próprias contradições. Então, explica Fernando Dacosta "é um pouco retratar, tanto pessoalmente como num contexto social determinado, mas com um universo ficcional sobre eles".
María Díaz, uma das 17 pessoas em palco, esclarece que a obra passa por um período de amadurecimento. E adianta que no fim se percebe que "apesar de estarmos mal, há sempre uma esperança, conclui-se que ainda podia ser pior". Dacosta, também autor do argumento, diz-se satisfeito com o resultado do trabalho, mas pretende que o tempo introduza melhoras. Até mesmo porque esta foi apenas a segunda vez que El Despertar foi apresentado ao público, um dia depois da estreia absoluta em Lisboa.
O único senão deste espectáculo foi a dificuldade criada pela barreira da língua já que representação foi feita em espanhol. Mas isso não travou o entusiasmo dos admiradores que os Maricastaña já têm na Covilhã. Rui D`agot, aluno da UBI, conhecia o grupo do ano passado. "Fiquei com uma boa impressão da primeira vez que os vi e agora demonstraram que têm mesmo talento", observa. Maria João Canadas, também estudante na Covilhã diz que nunca os tinha visto e reconhece que "são realmente tão bons", como lhe tinham dito. Salienta ainda a sua "energia e presença em palco fantástica". Características que Fernando Dacosta reconhece. "O nosso trabalho é fundamentado no ritmo, nos impulsos e na organização", frisa, "mas essa energia é flutuante. Por vezes há fases mais tranquilas, mais poéticas, para posteriormente atacar com força nas cenas a que se pretende dar ênfase", explica.