Meeting Capoeira Primavera em Faro 2003
Ao ritmo do berimbau

Durante três dias, capoeiristas de todo o País e do estrangeiro reúnem-se com o mesmo objectivo: viver a capoeira. Alunos da UBI estiveram presentes com o grupo Raízes D'África.

Por Cátia Felicio


Ritmo e emoção fizeram bater os corações dos capoeiristas que levaram ao peito o nome do seu grupo de capoeira até Faro, nos passados dias 11, 12 e 13 de Abril. Os alunos da UBI que integram o grupo Raízes D'África, participaram neste evento. Ermis Quaresma, mais conhecido por Sapo, é o instrutor deste grupo e diz que o evento superou as expectativas. Para ele há que tentar jogar com o coração, e acrescenta "a capoeira é uma luta que precisa de união".
Ao ritmo do berimbau, ao som das palmas e das letras cantadas com tradição, a cidade de Faro acolheu cerca de 750 capoeiristas, num total de 30 grupos. Ao longo de 30 horas, jogou-se capoeira e muitos foram os que seguiram atentos, tanto na bancada como na roda, a todos os movimentos e passos que se davam.
Mestre Alexandre Barata, cujo primeiro grupo de capoeira que integrou foi o Raízes D'África, é o responsável por este encontro em terras algarvias. Barata refere que o encontro correspondeu às expectativas e define capoeira como "aprender a escutar o berimbau, sentir o ritmo e plantar o respeito mútuo. Há que saber perceber o outro".Praticante de capoeira há 28 anos, está apenas há dois anos em Portugal. Neste evento comemora os seus 42 anos e relembra o que sente sempre que entra numa roda de capoeira, "é uma energia que sai do chão, passa pela terra, balança o coração, limpa a mente, num som forte, coordenado pelos berimbaus que aqui toquem em harmonia". Apesar dos gastos, num total de 70 mil euros, este é um encontro que vale sempre a pena e realizar, segundo Barata.
Mestre Barão de 58 anos pertence ao Grupo Capoeira Lagoa da Saudade. Conhecido internacionalmente, salienta que este é um evento com muita energia positiva.
Por seu lado, Flávio Costa, do Grupo União, diz que estes eventos são os melhores momentos que qualquer capoeirista pode ter, pois há muita emoção à flor da pele. Apesar de trazer à cintura a corda azul, que corresponde, no seu grupo, à primeira graduação, diz que aspira chegar mais longe e que "na capoeira pode-se sempre aprender mais".
O próximo evento em que o Grupo Raízes D'África vai participar é o baptizado do Grupo Giga Camará, do professor Papagaio, que terá lugar em Aveiro no dia 7 de Maio. Tal como esclarece Sapo, para quem Raízes D'África e um grupo e ao mesmo tempo uma família,"mais tarde, provavelmente em Outubro, serão baptizados os actuais alunos do nosso grupo, Raízes D'África".


História da Capoeira



Olhando o passado entendemos melhor o presente. Para os capoeiristas a roda é um mundo onde o respeito e o amor pela arte se entrelaçam. Capoeira de rua ou leccionada numa academia, de Angola ou Regional - duas variantes de capoeira- há que recordar os velhos mestres sem os quais seria possível esta arte. Mestre Pastinha foi o pai da Capoeira Angola e com a sua vasta experiência de vida deixou os movimentos e o respeito pelas regras que, ao som do berimbau, perduraram até aos nossos dias. Começou a ensinar capoeira no dia em que encontrou um menino de rua a ser espancado e tentou ajudá-lo. Fundou, mais tarde, a sua Academia onde ensinou muitos jovens a defenderem-se. Morre a 13 de Novembro de 1981, aos 92 anos, na miséria, cego e quase paralítico, pois a capoeira sempre foi apenas uma forma de sustento e, acima de tudo, uma forma de vida. Hoje, este é um dos nomes mais importantes da história da capoeira.