O Leopardo

de Giuseppe Tomasi di Lampedusa



Por Eduardo Alves




Considerada uma das obras de maior relevo literário de origem italiana. Uma publicação póstuma de Guiseppe Tomasi di Lampedusa. Vale como exercíco literário e também como manual da história referente à unificação do país."Leopardo" começou a ser escrito por di Lampedusa, príncipe siciliano, quando este tinha já 58 anos de idade. Para além de alguns artigos publicados em jornais, a este aristocrata não se conhecem outras escritas. Uma primeira vantagem deste livro reside no facto do título e do tema estarem em sintonia. Ambos fazem alusão à condição humana. Especialmente à de um homem que carrega o nome e as normas de uma dinastia. O príncipe Fabrizio consegue levar esta tarefa com ânimo leve enquanto jovem. Robusto o quanto baste para o exercício, defende o património da família e o seu estado de superioridade na Sicília.
O tempo vai revelar-se o seu principal inimigo. Lutas políticas, descontentamento popular e injustiças humanas começam por revelar uma face do mundo para a qual a nobreza teimava em não olhar. Como um auto-retrato, o autor descreve pessoas, palácios e lugares através de pormenores quase fotográficos. A escrita adjectivada e rica em detalhes, serve de máquina temporal. O leitor quase que viaja pelos tempos em que decorreu a acção, um período compreendido entre os anos 1860 e 1910.
A cada dia que passa, este homem com a força e a destreza de um leopardo, vai ficando triste e confuso. Transformações sociais e mudanças pessoais levam um homem de carácter guerreiro a ficar cada vez mais fraco e impávido perante cenários de derrota. A passagem de uma vida faustosa e repleta de mordomias para a de um fugitivo político. Experiências em volta de uma mente humana que conhece transformações impensáveis, tudo com o objectivo último de adaptação às diferentes situações.

"Dividido entre o orgulho e o intelectualismo maternos e a sensualidade e leviandade paternas, o pobre princípe Fabrizio vivia num descontentamento permanente sob os olhares severos de Júpiter, contemplando a ruína da sua raça e do seu património sem dar mostras de qualquer actividade e, mais ainda, sem o menor desejo de lhe pôr cobro".