O paraíso

aqui tão perto




Albufeira





Por Nélia Sousa



Turisticamente conhecida pelas suas paradisíacas praias, de areia fina e dourada, Albufeira é hoje uma das cidades europeias mais procuradas pelos turistas estrangeiros, sobretudo ingleses, que encontram nesta localidade um poiso apetecível para se dedicarem ao ócio e ao lazer. Aqui estão reunidos os ingredientes necessários para disfrutarem de bons momentos, "banhados" pelo sol tórrido que se faz sentir nos meses de Verão e para se refrescarem nas águas mornas e transparentes das inúmeras praias que compõem o concelho, estendidas por entre rochas arenosas e falésias avermelhadas, esculpidas pela erosão do vento e do mar, dando um toque de beleza e originalidade à costa algarvia. Para que não perca tempo a procurar, deixamos-lhe aqui um rol de praias pelas quais pode optar e disfrutar de todos os recursos que elas lhe podem oferecer: praia da Balaia, praia do Castelo, praia da Falésia, praia da Coelha, Baleeira, Olhos d'Água, Galé, Maria Luísa e praia de S. Rafael são as mais conhecidas e as mais procuradas no concelho que tem o privilégio de usufruir de 30 quilómetros de extenso areal.
À tardinha quando o sol esconder os últimos raios no horizonte e convidar a abandonar a arrumar a toalha e o chapéu-de-sol, nada melhor que optar por um passeio pela cidade, que aos poucos começa a encher-se de veraneantes atraídos pelo cheiro inconfundível dos pratos apetitosos provenientes dos vários restaurantes espalhados pelo centro. A gastronomia é incomparável e variada, bastante rica em pratos de peixe e marisco. Damos-lhe aqui algumas sugestões que não pode deixar de provar: cataplana à algarvia, rodízio de peixe fresco a saltar da grelha, arroz de marisco, choquinhos com tinta, salada de polvo ou ainda a famosa caldeirada (mistura dos mais variados peixes) com batatas, pimenta e salsa que é, sem dúvida, um dos pratos mais apreciados e primorosamente confeccionados pelos pescadores. Há ainda o Xerém (papas de milho), as favas e ervilhas à algarvia. No final não deixe de pedir os deliciosos doces feitos à base de amêndoa, gila e figos ou os típicos bolinhos de alfarroba. Um autêntico "manjar dos deuses". A tudo isto associa-se ainda a música tocada e interpretada por músicos que dão um toque mais sereno, calmo e romântico à refeição. À noitinha são os bares e as discotecas que tomam conta da população, ou não fosse Albufeira a rainha das noites algarvias oferecendo a quem aqui passa uma badalada animação nocturna.
Mas se a principal vocação de Albufeira é, nos tempos que correm, o turismo e o lazer, nem sempre assim foi. O boom turístico deu-se apenas a partir da década de 60, altura em que começam a chegar a estas paragens algumas personalidades inglesas que, ofuscadas pela tranquilidade da pequena vila piscatória aliada às maravilhas das paisagens circundantes, resolvem promover o lugar levando-o ao reconhecimento internacional. Contudo, ainda que a tradição rural se tenha vindo a perder aos poucos em grande parte devido à recepção de novos agentes culturais, Albufeira não esconde o seu passado profícuo e glorioso que se encontra presente nos monumentos, nas ruas, nas casas e nas gentes locais. Convidamo-lo a dar um passeio pela história e pelo património histórico-cultural do concelho de Albufeira.

Por entre chaminés e açoteias

Muitos foram os povos que aqui se fixaram. Sabe-se, igualmente, que a sua origem remonta àpré-história e que o local onde hoje se ergue a cidade teria sido uma importante povoação com o seu porto marítimo. Os Romanos que aqui se fixaram atribuíram-lhe o nome de Baltum. De seguida vieram os Visigodos, introduzindo alterações significativas na estrutura da administração sem no entanto alterar a organização económica desenvolvida pelos romanos.
Em 716 Albufeira é tomada pelos Árabes que aí permanecem mais de cinco séculos. Durante o período árabe tomou a designação de Al-Buhera, diminutivo de "Baron" que significa castelo do mar e que poderá estar ligada à proximidade do oceano e/ou da lagoa que se formava na zona baixa da localidade. Daquela palavra árabe derivou o actual termo Albufeira. Com o domínio árabe, Albufeira conheceu momentos de grande prosperidade através do desenvolvimento da agricultura, provocado pela introdução de novas técnicas, instrumentos e culturas. Os Árabes deixaram na vila uma herança assinalável. A título de exemplo vejam-se as chaminés, as casas brancas com janelas características ou ainda as açoteias que ainda hoje constituem como que um ponto de referência. A cidade, tal como Faro, foi uma das últimas praças a serem tomadas aos mouros que, aquando da reconquista, para escaparem às tropas cristãs tiveram como única alternativa o refúgio numa caverna, denominada Gruta do Xorino, situada sob a falésia. A presença cristã veio ditar a decadência económica de Albufeira que durante o domínio árabe era considerada uma das grandes praças fortes do Algarve estabelecendo vantajosas transacções comerciais com os portos do Norte de África. A agricultura, a criação de gado e a pesca tornam-se, então, nas principais actividades económicas. No século XIX a exportação de peixe e frutos secos vieram dar um grande impulso económico à vila. A actividade piscatória foi durante muitos anos o principal meio de subsistência da população residente. No entanto, também a pesca viu os seus frutos começarem a cair a partir da década de 30. Verifica-se o encerramento de algumas fábricas, o desaparecimento das embarcações, a ruína das armações de pesca e o abandono de muitas casas. É então na década de 60 que a situação se inverte. A crise dá lugar ao forte surto urbanístico nunca antes visto e a pequena vila dos pescadores transforma-se no maior centro turístico do Algarve.

Pelos trilhos da história

Mas Albufeira não se resume ao fogoso sol, às maravilhosas praias ou aos animados bares, restaurantes e discotecas. É certo que estes elementos são hoje os principais pólos atractivos da cidade, mas não esqueçamos que a mesma inclui um valioso património histórico e cultural, ainda que o terramoto de 1755 tenha destruído grande parte dos seus monumentos.
Deixamos-lhe aqui um pequeno roteiro que deve seguir caso tome Albufeira como próximo destino de férias. Comece por visitar a Igreja Matriz, datada do século XVIII. Situada na Rua da Igreja Nova, o edifício religioso possui no seu interior uma valiosa estátua de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Albufeira, e uma magnífica pintura do pintor albufeirense Samora Barros que embeleza o altar-mor da igreja. No cimo do arco da porta principal encontra-se a Cruz de Aviz, símbolo da Ordem Religiosa-Militar a que pertenceu Albufeira. Não deixe de olhar para a Torre Sineira que faz parte desta igreja. Com uma altura de 28 metros pode-se aceder ao topo por meio de uma longa escadaria e admirar o carrilhão de oito sinos.
Segue-se a Igreja de S. Sebastião, construída, em meados do século XVIII. As suas formas arquitectónicas são de inspiração popular. O interior apresenta um retábulo em madeira. Percorra agora a Rua Miguel Bombarda até encontrar a Igreja de Sant'Ana construída no final do século XVIII e cujos altar-mor e púlpito apresentam o estilo "rocaille". O próximo monumento merece especial atenção pela sua localização. A Capela da Misericórdia, situada no lugar onde foi edificada a mesquita árabe, e transformada em Capela da Misericórdia em 1499. No seu interior ressalta o retábulo de talha onde se encontra um imagem de Nossa Senhora da Visitação e do Senhor Morto e ainda o túmulo de Rui Dias, possivelmente o Alcaide do Castelo.
Uma coroa de ferro sustentando o sino das horas chama a atenção do nosso olhar que contempla por alguns minutos a criatividade desta estrutura metálica. Designada por Torre do Relógio é, sem dúvida, o ex-líbris da cidade. Da Rua Bernardino de Sousa siga agora em direcção à Rua Joaquim Pedro Samora onde se encontra o vestígio de uma das torres da muralha do Castelo, destruído pelas erosões do tempo e pelo terramoto.
Visite, agora, o Arco da Travessa da Igreja Velha, um belo exemplo da arquitectura árabe, onde poderá contemplar as bilhas e a calçada de rego central. O nome da rua deve-se à existência de uma mesquita árabe, transformada posteriormente em Igreja Cristã e que ruiu com o terramoto de 1755.
Desloque-se, de seguida, em direcção à praia, mais precisamente à Rua da Bateria, onde a partir do muro que ladeia a rua poderá ver a Bateria de Albufeira, um compartimento subterrâneo provavelmente construído no século XVI que servia para armazenamento de munições e cujo desmoronamento da falésia veio pôr a descoberto.
Ainda que tenha de percorrer uma longa distância, vale a pena o esforço. Um pouco distante do centro e implantada num cerro fica a Ermida de Nossa Senhora da Orada, uma típica ermida rural muito frequentada por pescadores.

Rumo ao barrocal algarvio

Um oceano banhado por águas calmas e cristalinas, batendo incessantemente num areal fino edourado abrilhantado pelos raios solares; camadas rochosas que o mar fez questão de esculpir e transformar em autênticas obras de arte natural é a imagem que se leva de Albufeira. O concelho divide-se em cinco freguesias: Albufeira, Ferreiras, Guia, Olhos d'Água e Paderne. É por estas localidades que vamos de seguida viajar e explorar, mostrando o outro Algarve, escondido, intacto, típico, um autêntico tesouro escondido por entre cerros que embelezam estas paragens do litoral e barrocal algarvios. Comecemos a nossa viagem rumando à pequena povoação piscatória de Olhos d'Água, seis quilómetros a nascente de Albufeira. Gozou em tempos de grande importância histórica, servindo como vigia e defesa da cidade de Albufeira. O seu topónimo deve-se às nascentes de água doce que emergem do mar e nos seus areais. O fenómeno turístico veio desabrochar esta pequena povoação, tirando-a do anonimato e transformando-a numa das principais estâncias turísticas do concelho. Do seu património histórico destaque-se unicamente a Torre da Medronheira, construída no reinado de D. João III e que servia como vigia para avisar as povoações costeiras da aproximação de corsários, e as nascentes de água doce, conhecidas por Olheiros.
Desloquemo-nos agora até Ferreiras, a cinco quilómetros a norte de Albufeira. Assim designada por ali terem residido em meados do século XX uma família de apelido Ferreiras. A sua origem remonta à época romana, a provar essa permanência estão alguns vestígios arqueológicos datados do século II a. C. Aqui o visitante pode contemplar as casas típicas com platibandas, açoteias, chaminés rendilhadas, bem como moinhos de vento, lagares, eiras e noras. Seguimos viagem pela E.N. 125 até à Guia, a seis quilómetros de Albufeira. Esta pequena terra com um longo passado histórico tem vindo a crescer nos últimos tempos. Destaque-se a Igreja Matriz e as ermidas de Nossa Senhora da Guia e de São Sebastião. Se é apreciador da natureza então não muito longe da Guia encontra o sítio da Lagoa dos Salgados, um excelente local, pleno de vegetação, para observar aves migratórias. Perto da Guia poderá ainda visitar o Zoomarine, um amplo parque oceanográfico de entretenimento educativo que oferece espectáculos de golfinhos, exibição de focas, tubarões, tartarugas, aves exóticas e aquáticas, crocodilos e peixes tropicais, para além de poder usufruir de piscinas, restaurantes, lojas e muita, muita diversão.
Desloquemo-nos agora até Paderne, a freguesia mais a norte do concelho, a 12 quilómetros de distância. Em pleno barrocal algarvio esta bonita povoação situa-se num cerro denominado Paderna do qual recebeu o nome. É talvez aquela que consegue manter mais acesa a chama da tradição através do artesanato e das festas populares. O Castelo é talvez o ponto de referência da pacata povoação, sendo uma das fortalezas que figuram na Bandeira de Portugal. Situado na margem esquerda da Ribeira de Quarteira, num ponto estratégico entre Silves e Loulé, o castelo defendia não só a antiga povoação de Paderne como controlava uma importante passagem entre o barrocal e o litoral algarvios. Construído no século XIII em plena época Almóada, foi conquistado aos mouros em 1248 por D. Paio Peres Correia e desactivado em 1858. O terramoto, a transferência da povoação do interior das muralhas para norte e o desinteresse das autoridades locais fez com que hoje seja visível o estado de degradação em que se encontra. Dentro do perímetro desta antiga fortificação encontra-se a Ermida de Nossa Senhora da Assunção, a antiga paróquia da povoação. O isolamento e a ruína do castelo levaram ao seu progressivo abandono. Actualmente apenas apresenta as paredes mestras, tendo-se perdido a maior parte do seu espólio. Em Paderne poderá ainda ver a Igreja Matriz, um belíssimo templo de três naves, cuja construção data de 1506 e cujo interior está enriquecido com uma interessante colecção de estátuas do século XVIII, para além de admiráveis retábulos e de um cálice que tem como curiosidade o facto de possuir um nó esférico achatado, testemunho do período renascentista, e a Ermida de Nossa Senhora do Pé da Cruz, datada do século XVII. A Ponte do Castelo, a Fonte e a Azenha são outros locais obrigatórios de passagem. Se gosta de dar passeios agradáveis então sugerimos-lhe a visita até à Ribeira d'Alte e à Ribeira de Algibre, onde pode apreciar a fauna e a flora do local bem como respirar o ar puro daquelas paragens.
Quando chegar a altura de fazer as malas não se esqueça de incluir pequenas recordações. O artesanato local é rico e variado. Poderá encontrar em inúmeras lojas objectos típicos, tais como azulejos trabalhados, chaminés tradicionais, casas algarvias em miniatura, capachos em carepas de milho, cobre trabalhado, bonecas de trapos ou ainda tapetes de esparto.
Não leve de Albufeira apenas a ideia de uma cidade repleta de hotéis de luxo ou de simpáticos aldeamentos, famosos campos de golfe ou de animada vida nocturna. Albufeira é também uma cidade cheia de história que o turismo veio pôr a descoberto.