Laura Sequeira
NC/Urbi et Orbi


As gravuras descobertas na Barroca do Zêzere já têm entre 15 e 16 mil anos de existência e representam, de forma incompleta, dois cavalos

Depois de um quilómetro por caminhos de areia e rocha, as gravuras rupestres do Zêzere revelam-se para uns e continuam como sempre foram para outros. Se as pessoas da Barroca, incluindo António Ferreira, presidente da Junta de freguesia, conviviam com as gravuras sem lhes dar a devida importância, agora muitos se fazem ao caminho para ver o que os homens pré-históricos desenhavam nas rochas.
O Poço do Caldeirão, na Barroca do Zêzere é o local que já atrai curiosos. Depois do mediatismo de Foz Côa, também as gravuras rupestres do rio Zêzere estiveram em destaque na semana passada. Datadas de um período que pode ir de 16 a 15 mil anos, as gravuras mostram "três representações intencionalmente incompletas de equus caballus, todas orientadas para a direita relativamente ao observador", explica António Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre (CNAR). O facto dos painéis não estarem completos tem "alguma simbologia", afirma Silvina Silvério, arqueóloga em investigação em Castelo Novo e que já analisou as gravuras do Zêzere.
Segundo o parecer técnico de António Martinho Baptista, "na segunda superfície historiada observa-se igualmente uma outra gravura de idênticas técnica e tipologia, mas esta quase completamente coberta por densas formações e por isso ainda de difícil caracterização". "Estas representações de cavalos apresentam um estilo claramente paleolítico", afirma o director do CNAR.
"Esta descoberta é extremamente significativa no contexto da arte pré-histórica conhecida em território português, pois não só amplia o conhecimento da nossa arte mais arcaica, como demonstra que a arte paleolítica de ar livre tem uma grande dispersão podr todo o interior peninsular", refere Martinho Baptista. E apela para o facto de "o sítio dever ser convenientemente salvaguardado e protegido".

Preservação do local é prioridade da autarquia

"Há uma medida que seguramente terá que ser adoptada, que é da preservação e valorização do local", garante Manuel Frexes, presidente da Câmara Municipal do Fundão que considera as gravuras "um achado muito importante e que vem completar uma lacuna que existia nas gravuras paleolíticas".
Para prevenir que haja vandalizações do local, o vereador da cultura na autarquia fundanense já está a elaborar um desdobrável que indica os procedimentos a ter juntos das rochas. Segundo Paulo Fernandes, o desdobrável será distribuído a partir da Junta de freguesia e indicará as formas de observação das gravuras. Manuel Frexes assegura ainda que "o que faz sentido é delimitar o espaço físico para que os especialistas venham investigar".
O Centro Nacional de Arte Rupestre fará trabalhos de prospecção das margens do Zêzere a partir do mês de Julho de modo a que se possam tirar as dúvidas acerca da possível existência de mais gravuras rupestres. Carlos Banha, arqueólogo, afirma ser possível "a existência de mais gravuras, embora só na sequência dos trabalhos realizados em Julho pelo CNAR é que isso possa ser confirmado". Silvina Silvério lembra que "há muita coisa para fazer e para encontar na região da Beira".
Outra das medidas avançada pela autarquia fundanense prende-se com a construção de uma mini-hídrica no rio Zêzere. O projecto de construção da mini-hídrica para a zona da Barroca não põe em risco as figuras rupestres. Manuel Frexes garante que "há uma coisa que tem que ficar garantida: a mini-hídrica não pode em caso algum pôr em causa o valor destas gravuras e deste património". O autarca fundanense afirma que a estrutura "terá que ser construída de modo a não prejudicar as gravuras".
Descobertas no início do mês, as gravuras do paleolítico chamaram a atenção de Diamantino Gonçalves, um fotógrafo amador que se preparava para ilustrar o poema "A Balada", que fala do rio Zêzere. Foi num dos olhares que lançou pela paisagem que se deparou com as duas gravuras e prontamente as registou.