Pedro Rodrigues*

Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial


Ao tomar conhecimento da intenção do Ministério da Ciência e do Ensino Superior em não abrir vagas para a Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial da Universidade da Beira Interior, numa primeira fase não consegui acreditar na revelação que me haviam anunciado, mas depois de me consciencializar de que não tinha sido uma brincadeira de mau gosto, confesso ter dificuldade em expressar o que sinto sobre este assunto, arrisco-me contudo a dizer que encerra perplexidade, indignação, revolta e alguma impotência.
Pelo que contribuí, enquanto aluno da Universidade da Beira Interior e após ter concluído a licenciatura, para a divulgação do curso e simultaneamente da Universidade e da Região no país e no estrangeiro ( a Licenciatura em EPGI é divulgada em toda a Europa, através do UBINEP o qual faz parte da ESTIEM - European Students of Industrial Engeneering and Management [www.estiem.org], associação que representa mais de 50.000 estudantes de Engenharia e Gestão Industrial de diferentes países da Europa) , considero ter propriedade para abordar este assunto com Vossas Excias e partilhar a minha profunda tristeza pela situação em que a licenciatura se encontra.
Expresso-me, de facto, com a tranquilidade e consciência de quem sempre contribuiu e continua a contribuir para a elevação do bom nome desta universidade e da Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial e de quem continua a sentir orgulho em se ter formado na instituição Universidade da Beira Interior, mas também com a mágoa de sentir que um assunto com esta gravidade parece não ter suscitado a devida reacção de todos quantos fazem parte da grande instituição que é a Universidade da Beira Interior. No meu entender a única reacção possível consistiria em não aceitar esta situação e colocar ao ministério o ónus da decisão.

Tenho consciência que esta decisão será marcante - pela negativa - para a Universidade, pois trata-se de um filho que se encontra em perigo de morte, mesmo tratando-se de um filho que por vezes mereceu honras de enteado, e por isso peço que sejam tomadas todas as medidas que conduzam a alteração desta situação que considero gravíssima, não só por se tratar da Licenciatura em EPGI, mas também por se tratar de uma licenciatura da Universidade da Beira Interior e especialmente por se tratar de uma licenciatura ministrada numa área do saber em que se regista um défice enorme de Portugal face aos seus parceiros europeus e que pelas características que encerra vai de encontro às prementes necessidades do país e dos cidadãos:
- Perfil do licenciado adequado às exigências do mercado;
- Faculta um elevado nível de empregabilidade aos licenciados, a qual não se esgota com o fim do ciclo de uma tecnologia ou de um sector.
Na realidade, os alunos e antigos alunos da Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial já haviam inúmeras vezes alertado para a necessidade da Universidade e/ou o Departamento assumirem uma política mais agressiva de marketing, uma vez que sendo o mercado do ensino, neste momento, um mercado de "quase" livre concorrência às universidades resta-lhes a incomoda tarefa de lutar pela conquista dos seus lientes/estudantes como se de uma actividade empresarial se tratasse.
Contudo, estes apelos não parecem não ter merecido toda a atenção que se exigia e apenas este ano, mas por iniciativa de alunos e antigos alunos, foi desenvolvida uma campanha específica para conquistar alunos/clientes para a Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial. Ironicamente, este ano o ministério intentou não abrir vagas para esta licenciatura e ao que parece a intenção constitui apenas o primeiro passo para decisão de maior gravidade.

Mediante este cenário, algumas interrogações se me colocam:
- Esta situação apenas ocorreu com EPGI ou o problema irá alargar-se a outras engenharias (têxtil, electromecânica, mecânica, electrotécnica …)? Se sim, o que irão fazer os docentes da UBI com formação em Ciências de Engenharia?
- A UBI vai transformar-se numa escola de artes e letras, procedendo-se daqui a uns anos a uma adaptação dos edifícios das engenharias, ficando os laboratórios/equipamentos laboratoriais como espólio museológico?
- Tendo as Licenciaturas em Engenharia e Gestão Industrial enorme aceitação na América do Norte e países Europeus, será que eles estão errados?
- A decisão tomada pelo ministério foi baseada numa análise de perfis profissionais que as empresas necessitam?
- O modelo de desenvolvimento do nosso país apresenta a singularidade de não necessitar de engenheiros?
- Na região e no país há engenheiros a mais?
- O país pode dar-se ao luxo de prescindir de cursos, "ainda mais ao preço da chuva - vejam-se as disciplinas específicas de EPGI ", com saídas profissionais asseguradas e continuar a investir em formar licenciados para o desemprego?
Poderia mencionar seguramente mais 20 interrogações, porém considero que as questões que coloco deverão merecer a reflexão de Vossas Excias, e provavelmente em seguida compreenderão a razão pela qual:
A intenção do Ministério da Ciência e Ensino Superior em não abrir vagas para a Licenciatura em Engenharia da Produção e Gestão Industrial da Universidade da Beira Interior é INACEITÁVEL.
A organização que os actuais alunos e antigos alunos têm não vai permitir deixar passar esta situação de forma leve e irão lutar pela reposição daquilo que consideramos ser o melhor para a Universidade, para a Região e para o País.

Observações:
1) Ontem tentei aceder à página de divulgação do curso [www.epgi.ubi.pt] e também ao relatório da comissão de avaliação e não me foi possível aceder. Porque será?
2) Ontem, ao final da noite um amigo meu dizia-me que os exemplos vindos de cima afectam sempre "quem menos se pode defender", e isso ainda não me saiu da memória…
3) A esta hora a reunião do Senado da Universidade da Beira Interior ainda não terá terminado. Estou certo de que do mesmo sairá uma posição clara sobre este assunto.


* Licenciado em EPGI