António Fidalgo

Os incêndios


Impossível não falar dos incêndios que devastam Portugal, e em especial os concelhos da zona do pinhal, Sertã, Vila de Rei, Oleiros e Proença-a-Nova. A rotina de todos os Verões assumiu este ano a dimensão de calamidade. É triste ver as labaredas consumirem pinhos, eucaliptos, árvores de fruta e oliveiras, casas e palheiros. É triste ver na televisão a angústia das populações locais que num ápice perdem as suas coisas na voragem do fogo. É triste ver a paisagem negra que o fogo deixa atrás e que prenuncia mais despovoamento das regiões atingidas.
Para este inferno parece que tudo se conjugou: alastramento da floresta pelos campos que antes eram de cultivo, desordenamento florestal, falta de limpeza das matas, temperaturas elevadíssimas durante demasiado tempo, baixa humidade do ar, coordenação deficiente dos meios de combate. É verdade que noutros países o drama dos incêndios também acontece, como na Austrália, França e Canadá. Mas todos sabemos que em Portugal há muitas coisas que poderiam ser feitas para minimizar os incêndios e seus efeitos e não o são.
Portugal pode beneficiar, e já beneficia, muito da floresta. Contudo, não podemos tratá-la como se não houvesse investimentos de manutenção. A floresta não é mais uma simples fonte de matéria prima, mas antes um elemento essencial à vida humana, de um ponto de vista ecológico, de qualidade do ar e de vida. Se se investe tanto em segurança de pessoas e bens, em polícias e forças armadas, então também haverá que investir na segurança ecológica. As pessoas pagam seguros de roubo e de incêndio das casas, investem em fechaduras de dezenas de contos, em alarmes. Contudo, agora vemos que a segurança da vida não se resume a isso. Sem um meio ambiente em condições, a vida torna-se intolerável.
Tem de haver a consciência de que é preciso pagar para se usufruir de uma floresta ordenada.