Carla Loureiro
NC / Urbi et Orbi


Segundo as companhias teatrais, contratar actores, por exemplo, torna-se mais caro no Interior do que no Litoral

Reflectir sobre a sua condição, dialogar e propor ao Estado questões que lhes parecem relevantes para poderem prestar um serviço público com mais qualidade e "combater" a menorização a que estão sujeitas em relação às companhias dos grandes centros urbanos. Eis alguns dos problemas discutidos por 11 estruturas teatrais do Interior ao Algarve que se sentaram à mesma mesa na última segunda-feira, 15, na sede do Teatro das Beiras, Covilhã.
O encontro, algo que não se realizava desde os anos 80, é a resposta à proposta feita pelo Governo sobre o novo enquadramento do apoio e participação na criação teatral. As estruturas anuiram e escolheram a cidade serrana para debaterem as dificuldades que se apresentam "ao desenvolvimento de um trabalho que já existe mas que pede continuidade", esclarece Graeme Pulleyn, do Teatro Original de Montemuro, Castro D' Aire.
Cientes da contribuição que têm tido no desenvolvimento cultural, económico e social das comunidades em que se inserem, as estruturas teatrais querem mais atenção por parte do Estado. "Estas companhias são responsáveis, todos os anos, pela realização de mais de 30 produções e mais de mil e 500 espectáculos por todo o País. O que dá qualquer coisa como entre 150 a 200 mil espectadores", sustenta Fernando Sena, do Teatro das Beiras. Números, acrescenta, que mostram bem o "peso que temos no movimento teatral português e na importância que cada uma tem na sua região".
E se a interioridade pode parecer, desde logo, uma das principais dificuldades com que se debatem, esse "handicap" é o menor dos problemas comparando com outros. Problemas na contratação de actores, técnicos, encenadores ou gestores culturais são outros dos "desfavores" em relação às companhias de Lisboa e Porto. "O que não é difícil de verificar, porque é aí que estão os actores, técnicos, etc. Quando queremos contratar alguém de uma dessas estruturas temos que lhes pagar bastante mais", refere António Augusto Barros, da Escola da Noite, de Coimbra. E vai mais longe: "Há uma menorização claríssima nos órgãos de comunicação social de expansão nacional em relação aos projectos que estão fora de Lisboa". Algo que, afirma, "tem muita influência nas decisões políticas" e, obviamente, na atribuição de subsídios e apoios.
Disponíveis para um diálogo sem preconceitos e aberto com o Governo e principais financiadores da sua actividade, estas estruturas chamam, porém, a atenção para a "incoerência completa do Estado" no investimento que este tem feito. "Somos um sector importante e influente e que se não existisse implicaria um enorme empobrecimento das cidades e do País", assevera o director da Escola da Noite.