Moderato Cantabile






De
Margueritte Duras












Por Sónia Almeida

"Inserida num mundo ao qual considera não pertencer (burguesia), Anne Desbaredes leva uma vida asfixiante, entediante e negligenciada sentimental e sexualmente por um marido ausente. A rotina domina-a, dedicando-se única e exclusivamente a levar o seu filho à escola, bem como a passear junto ao mar.
Para quebrar um pouco estes hábitos, Anne decide inscrever o filho em lições de piano. Assim, mãe e filho dirigem-se duas vezes por semana a casa da senhorita Guiraud, a professora de piano da criança; é justamente durante uma dessas aulas que se dá o acontecimento que mudará toda a sua vida: um grito estridente ecoa lá fora, perturbando a calma que se faz sentir na pacata vila.
Terminada a aula, uma multidão concentra-se em frente a um café, Anne aproxima-se e eis que se depara com o jovem corpo ensanguentado de uma mulher, cujo amante matara e agita, agora, freneticamente dizendo: "Amor…". Esta imagem fascina-a de tal forma, que se vê tentada, pela força da curiosidade, a desvendar a causa do assassinato. Para tal, adentra-se num mundo que não é o seu - o café do assassinato - e inicia uma conversa sobre o crime com a dona do estabelecimento. Ao fundo, uma figura masculina, Chauvin, observa minuciosamente Anne e, apercebendo-se do seu interesse pelo acontecimento, convida-a para o acompanhar num copo de vinho sobre o sucesso.
É, precisamente, durante estes encontros regados de vinho, sensualidade e clandestinidade que desabrocha uma grande atracção entre a heroína e Chauvin (atracção esta que os leva a querer reconstituir todo o percurso dos amantes, até à morte…).
Numa obra rodeada de mistério e volúpia, Margueritte Duras dá voz aos sentimentos reprimidos de uma mulher descurada, que anseia a felicidade acima de tudo e que se rende às condicionantes do mundo em que nasceu. "Moderato Cantabile" constitui, deste modo, o retrato, por um lado, de uma camada social que vive de aparências e onde a mulher não passa de mais um artefacto decorativo para o homem e, por outro, das assimetrias sociais de uma comunidade.