António Fidalgo

Pós-Graduações na UBI


À semelhança do que se passou em países mais desenvolvidos, também em Portugal irá aumentar significativamente nos próximos anos o número de alunos de pós-graduação, nomeadamente alunos de mestrado e de doutoramento. Nem sequer será necessário olhar para a Universidade de Harvard nos Estados Unidos, em que dos cerca de 19.500 alunos, apenas 6.700 são alunos de graduação, basta olhar para as universidades espanholas, bem aqui ao nosso lado, para perceber como os cursos de pós-graduação ganham importância crescente na vida académica. O ensino de pós-graduação é o ensino de investigação por excelência, na medida em que os trabalhos de mestrandos e doutorandos representam um contributo significativo para a ciência que efectivamente se faz. E isso em qualquer parte do mundo. Lá fora, há universidades que disputam os bons alunos de doutoramento, como disputam os bons professores. Uma excelente tese de doutoramento é uma mais valia inestimável para qualquer universidade.
Que queremos da UBI? Que seja apenas uma universidade de graduação -- e nesse âmbito, dever-se-á dizer que não está mal, pois que a sua atractividade tem vindo a aumentar de ano para ano para os estudantes que ingressam no ensino superior, ou que ambicione ser uma universidade de investigação, como aliás deve ser qualquer universidade que se preze? Nos Estados Unidos temos a diferença entre "teaching universities" e "research universities", ou seja, "universidades de ensino" e "universidades de investigação", e em Portugal temos as universidades do Litoral, as mais antigas e maiores, a distanciarem-se das universidades do Interior na oferta de cursos de pós-graduação. A maior parte dos cursos de mestrado e de doutoramento têm lugar em Lisboa, Porto e Coimbra. Só uma aposta muito determinada por parte das jovens universidades na pós-graduação poderá colmatar o fosso que as separa das universidades mais antigas.
Claro que a actual Lei da Autonomia das Universidades, a 108/88, não ajuda na promoção do ensino pós-graduado em Portugal. Basta dizer que os alunos de graduação têm uma representação igual à dos docentes nos órgãos colectivos das universidades, como assembleias e senados. Os alunos de pós-graduação não tem qualquer representatividade nos órgãos universitários! É de bradar aos céus, sim senhor, mas é a lei que temos e pela qual nos regemos.
Os alunos de pós-graduação devem ser vistos não como uma despesa da universidade, mas como o seu melhor investimento. Tudo, mas tudo, se centra e concentra nos melhores recursos humanos. Ora uma via para a excelência dos recursos humanos é a sua formação científica em regime de investigação como deve ocorrer com os mestrados e doutoramentos. Dito isto, e muito mais haverá por dizer, acho que as pós-graduações não devem ser vistas como fontes de receita, mas como um método de realizar a investigação científica que deverá caracterizar uma universidade hodierna.