Fundão
Barroca do Zêzere "é o quarto sítio da arte paleolítica de Portugal"

Com representações que remontam no tempo até cerca de 25 mil anos, Martinho Baptista mostrou, na passada sexta-feira, como se encontra a Beira Interior ao nível da arte rupestre. O director do Centro do Côa diz que ainda há muito por descobrir .

Andreia Reis
NC / Urbi et Orbi


"O povomento na Beira Interior lido a partir das pinturas rupestres" foi o tema da palestra de António Martinho Baptista, director do Centro de Arte Rupestre do Côa, apresentado na passada sexta-feira, 24, no Centro Cultural do Fundão, de forma a mostrar qual a situação actual da arte rupestre na região. "Fizemos aqui uma viagem no tempo de cerca de 25 mil anos", afirma o responsável, que procurou "caracterizar a evolução do povoamento da Beira Interior através de restos de arte rupestre encontrados".
O director mostrou, em mais de 60 diapositivos, representações desde cavalos, (a mais antiga que o homem pré-hitórico fez), até aos desenhos actuais encontrados nos sítios mais escondidos do País. Para além destes exemplos, o especialista apresentou outros de vários locais na Beira Interior - como a Barroca - onde tentou caracterizar "não só artisticamente, como em termos sócio-económicos e culturais, as sociedades que produziram essa arte". Isto porque "a arte não pode ser desligada dos contextos sociais e económicos dos homens que a produziram", justifica.
A Barroca do Zêzere, no concelho do Fundão está inserida nos caminhos da arte rupestre do Paleolítico e "é o quarto sítio de arte paleolítica em Portugal", garante o responsável do Centro de Arte Rupestre do Côa.
Recorde-se que, em Junho, descobriu-se na Barroca uma rocha com dois cavalos paleolíticos e ao lado uma pequena rocha com duas cabras afrontadas, provavelmente num período mais antigo que os cavalos. Mas, revela Martinho Baptista, "agora há outro painel". Pois a mais recente descoberta "são gravuras simbólicas, já de um mundo completamente diferente e que podem ser classificadas entre o neolítico final e a Idade do Bronze", classifica o técnico, ao mesmo tempo que revela que as representações "são apenas singulares, circulares, combinadas, simples e de círculos concêntricos".
Depois destas descobertas, datadas até cerca de 15 mil anos, o responsável garantes que as figuras na Barroca do Zêzere "não ficarão submersas" e que vai nascer "um Centro de Interpretação" no local. O Centro Nacional de Arte Rupestre (CNART) está a elaborar um pequeno relatório para entregar à Câmara com as propostas para aquele sítio. Para além disso, o especialista diz estar convencido que "vai aparecer muito mais arte rupestre aqui na Beira Interior porque é uma zona onde os rios correm quase todos em xisto", o que é fundamental porque "os homens pré-históricos gostavam imenso de xisto para fazer gravuras", anuncia Martinho Baptista, acrescentando que "para a descobrir, é preciso procurá-la". Para além do mais, a Beira Interior "é zona do País onde esta evolução pode ser mais sentida".