Tiago Neves Sequeira*

Universidade: artigos científicos e incentivos


O principal veículo de transmissão de ciência são os artigos científicos. As teses de mestrado, de doutoramento e a restante investigação, quando não publicada em revistas científicas, morre nas prateleiras! Mesmo os livros, quando não se revelam sucessos de vendas ou são editados por editoras menos credenciadas, não prestigiam a investigação. As revistas onde a ciência credível é publicada submetem os artigos a um processo de blind peer referee (ao contrário dos livros), o mesmo é dizer a um processo de arbitragem com dois juízes, decidindo o editor se o artigo deve ser publicado com base nos pareceres dos referees. As submissões de artigos são processos morosos, onde os cientistas se expõem à avaliação imparcial de quem não conhecem, sujeitando-se a várias rejeições do trabalho até ser publicado. Pode afirmar-se, com certeza, que é o melhor processo existente de credibilizar os progressos na ciência. Uma vez publicado, o artigo será procurado por cientistas em todo o mundo para a fazer progredir, acreditando que aqueles resultados passaram por um rigoroso processo de avaliação.
A UBI conta ainda com poucos artigos deste tipo no seu curriculum. No entanto, o progresso tem sido substancial nos últimos anos. Uma consulta à base de dados da Web of Knowledge (em http://isi4.newisiknowledge.com/portal.cgi) permite concluir que a UBI (não contando ainda com a Faculdade de Ciências da Saúde) publicou 207 artigos entre 1983 e 2002, 111 dos quais entre 2000 e 2002.
A inaugurar a lista, encontra-se o artigo do Professor Doutor Manuel dos Santos Silva, hoje Reitor da UBI, em co-autoria com os Professores Doutores Carvalho Rodrigues e Passos Morgado no Journal of The Textile Institute, em 1983. Dominam em todo o período os departamentos das Faculdades de Ciências da Engenharia e Exactas. Uma leitura superficial revela que, com uma ou duas excepções, muitos dos artigos e os mais citados são da autoria/co-autoria de professores estrangeiros e ou doutorados noutras universidades. Uma análise mais cuidada, e de muito interesse para definir políticas na instituição, poderá identificar os departamentos e os investigadores mais produtivos e os mais citados, bem como correlações interessantes entre a origem do investigador e a sua produtividade.
É preciso ter em atenção que a evolução tem sido enorme em Portugal. Só na ciência económica, de 4 artigos publicados no ano 1986 passou-se para 27 no ano 2000 (Guimarães, 2002). Daí que não se poder deduzir, dos números atrás referidos, a melhoria relativa da posição da UBI neste aspecto.
Duas razões devem levar-nos a reflectir sobre os incentivos que fazem os docentes universitários produzir ciência credível. Primeiro, os rankings das instituições são baseados na produtividade em termos de artigos científicos, como na área de Economia (ver como exemplo Guimarães, 2002). Aliás, hoje, na Econlit, a mais prestigiada base de dados de Economia, apenas estão referenciados 3 artigos desta Universidade!
São enumeradas duas formas, já testadas em algumas escolas, de incentivar os docentes a publicar artigos nas revistas mais conceituadas:
(1) fazer depender a contratação e a progressão na carreira das publicações e abandonar, ou tornar muito menos relevantes, os critérios administrativos, de participação em júris e orientações de teses;
(2) fazer um ranking de revistas por especialidade e atribuir prémios monetários pela publicação nessas revistas através, por exemplo, da Fundação da Universidade. Esta medida, além do prémio em si, teria um efeito de sinalização e demonstração. O custo desta medida, por variadas razões, revelar-se-ia mínimo.
É urgente agir para chegarmos a um patamar de excelência na investigação, tendo em conta os padrões mais exigentes.

 


*Docente no DGE-UBI, Doutorando na FE-UNL