José Geraldes

TGV e Linha da Beira

Finalmente, o Governo definiu o traçado do TGV (Comboio de Alta Velocidade). Com um atraso clamoroso. E, diga-se o que disser, com vantagens para Espanha. Como de costume, andámos a reboque.
Foi pena que não houvesse força negocial para impor o traçado por Cáceres, que para Portugal era mais vantajoso e que beneficiaria o nosso distrito e toda uma zona raiana.
Olhando para o mapa das linhas de alta velocidade de Espanha e comparando com o mapa português, uma sensação de arrepio nos invade. E o que se verifica? Do lado de Espanha que houve o cuidado de levar o comboio a zonas do Interior. E na prática todas as cidades médias são contempladas com a alta velocidade.
Entre nós, mais uma vez, o Litoral é o grande beneficiado, com excepção da linha que irá atravessar o Alentejo, de Évora a Faro.
A Região Centro fica menorizada. Nos mapas das linhas, parece um deserto onde nada passa. E que, não haja dúvidas, mais esquecida vai ficar.
A frase infeliz do Ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, em entrevista ao diário Público –“entre o Entroncamento e Cáceres não há ninguém “- diz bem do que pensam os senhores do Terreiro do Paço sobre o Interior. Aqui, não temos Universidades nem Politécnicos, não há fábricas, não há centenas de milhares de pessoas, pois não, senhor Ministro ? Ou está determinado a antecipar a data que, segundo o célebre estudo da ONU, iremos todos viver para a Área Metropolitana de Lisboa ? Não negamos a tendência para a desertificação mas cuidado com os exageros e o desprezo dos que cá vivem e não querem ser tratados portugueses de segunda.
O TGV passará em Coimbra. Mas, como já foi observado por especialistas de transportes, os dois grandes eixos que emergem, são Lisboa- Madrid e Porto-Vigo. Até porque têm prioridade na construção e no tempo de entrada em funcionamento e nos financiamentos comunitários.
Há a linha Aveiro-Viseu-Guarda-Salamanca que seria sempre uma decisão de consenso. Ou não fosse a fronteira de Vilar Formoso fulcral para o País. Daí ser obrigatório haver uma paragem na Guarda, o que não impede outra em Viseu. Em França, dão-se casos semelhantes em que se verificam paragens de dois minutos.
Mas, antes de discutir as paragens, temos de enfrentar a data da entrada em funcionamento desta linha.
A data de 20015 é tardia, dada a importância que esta linha pode ter no transporte de mercadorias e na ligação à Europa. Então, ficamos todos a viajar em alta velocidade para Madrid a partir de 20010 e só cinco anos depois, na melhor das hipóteses, podemos ir de TGV para Paris?
Tem que haver uma alteração nas prioridades.
Uma outra pergunta paira no ar : e que vai ser feito das linhas convencionais ? Continua ou não a haver investimento nestas linhas? Em concreto, no que nos diz respeito: que tratamento para a Linha da Beira-Baixa? E o troço Covilhã-Guarda vai ser definitivamente arrumado? Ao menos, que se aproveite para metro de superfície.
Sobre o assunto, Carmona Rodrigues nada disse. Importa, por isso, estarmos atentos. Nas passagens de nível sem guarda, o aviso alerta-nos para os perigos: “Páre, escute e olhe”. É o que nos compete fazer neste momento. Para não perdermos a Linha da Beira-Baixa.