A sinuosa descida de Piornos a Manteigas foi o percurso escolhido para o lançamento do
Dirtsurf em Portugal
Dirt Surf
Manteigas recebe primeira competição em solo português

Manteigas foi o palco escolhido para o arranque do Dirtsurf em Portugal. A estreia contou com pouco público mas a organização quer mudar isso quando a modalidade regressar à vila no próximo ano, já incluída no calendário do I Campeonato Nacional.


Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


Seja em que altura do ano for, com ou sem neve, a Serra da Estrela é pródiga em imagens de rara beleza. No dia 22, depois das chuvas da manhã, o nevoeiro apoderou-se dos cumes dos Cântaros e das encostas do Vale Glaciar, conferindo à paisagem um aspecto quase místico. Mas quem, nessa tarde se decidiu por um passeio pela estrada que liga Manteigas à Torre teve oportunidade, ainda que por acaso, de assistir a um outro espectáculo, para além daquele proporcionado pela natureza. Em cima de uma “prancha” com uma “roda de bicicleta” em cada extremidade 19 atletas desciam a encosta da Serra desde os Piornos até às Caldas de Manteigas em alta velocidade. Tratava-se de uma prova de “Dirtsurf”. A primeira de sempre realizada em Portugal. Mas a pouca divulgação do evento acabou por apanhar quase todos de surpresa.
A prova, organizada pelo “Terra Eventos”, uma secção do Aero Clube de Almeida, e apoiada pela Câmara de Manteigas, contou com a participação de 19 atletas, maioritariamente espanhóis. No nosso País, ressalva Ricardo Encarnação, responsável do Terra Aventura, “este desporto ainda está pouco divulgado, pelo que ainda há poucos atletas, e nem todos estão dispostos a entrar numa competição”.
Trata-se de uma modalidade que surge como alternativa a uma série de desportos radicais como o Skate, o Surf ou o Snowboard, em que o tipo de equilíbrio é semelhante. Pode disputar-se em quase todos os tipos de piso, desde o asfalto à terra, desde que o percurso seja inclinado. E embora à primeira vista, principalmente quando se olha para o veículo, pareça um desporto perigoso, os praticantes garantem que é “tão ou mais seguro que o surf ou o snowboard e menos perigoso que o skate, porque o dirtsurf tem travões apesar de não ter um selim ou um guiador como as bicicletas”. Para além disso, garante, Ricardo Encarnação, “é mais fácil de aprender do que outra modalidade radical qualquer. Basta meia-hora”.
“Inventado” na Austrália há cerca de cinco anos, o “Dirtsurf” tem vindo a ganhar adeptos um pouco por todo o mundo. “Nuestros hermanos” foram dos primeiros a aderir à nova modalidade, que já praticam há três anos em competições regulares. Em Portugal, ainda se encontra em fase embrionária mas a ideia dos responsáveis do “Terra Eventos” é organizar um Campeonato Nacional já em 2004. Um evento que contará com, pelo menos, uma etapa na Serra da Estrela porque, justifica Encarnação, “é a maior serra que temos no País e dispõe de condições excelentes – leia-se: grandes distâncias em declive acentuado, com curvas e contra-curvas de cortar a respiração - para esta actividade”.

“A Serra não pode ser apenas neve e esqui”

Junto à meta, situada poucos metros acima das Caldas de Manteigas, José Manuel Biscaia, presidente da Câmara, assiste à chegada dos atletas nas duas descidas efectuadas durante a tarde com a mesma curiosidade do restante público. “Parece um desporto agradável e mais seguro do que o primeiro olhar leva a crer”. Satisfeito por Manteigas ficar associada ao lançamento da modalidade no País, o edil lamenta apenas a pouca afluência de público e de comunicação social.
Ainda assim, o autarca não desanima e mostra-se disponível para apoiar futuras realizações. Em princípio, a modalidade regressa ao concelho por alturas do Carnaval, época em que Manteigas é “invadida” por turistas, e Biscaia espera que haja mais público. Depois, é esperar que o Dirtsurf se implante na vila. A Serra, defende, “não pode ser apenas neve e esqui”.
O presidente da Câmara reconhece que os desportos de inverno são a imagem de marca da região, mas defende a contínua aposta em outras modalidades para diversificar a oferta aos residentes e turistas. O Dirtsurf é uma delas, tal como a Rampa da Serra em automobilismo, ou o Skiparque, que permite esquiar durante todo o ano. Mas Biscaia quer ir ainda mais longe e construir piscinas de água quente e um ringue de gelo nas termas, bem como um campo de golfe em Vale da Amoreira, que complemente o já existente em Belmonte. A Serra da Estrela, conclui, “é uma montra. Por isso temos que deitar mão a tudo o que pudermos e enchê-la com mais produtos apetecíveis a potenciais consumidores”.