Miguel bernardo diz que comércio terá que pensar em novos horários
Crise comercial
"Comércio tem grandes lacunas de organização"


O comércio não está a passar pela sua melhor fase. A Covilhã é exemplo disso. No entanto, a culpa não é só da "crise". Uma das razões pelo facto da cidade não ter tanto sucesso comercial é o facto de ter sido construída "numa perspectiva industrial", segundo Miguel Bernardo.


Andreia Reis
NC / Urbi et Orbi


"O comércio está na Covilhã, como em muitos outros sítios do País, a ser objecto de uma grande recessão em termos económicos". Foi desta forma que Miguel Bernardo, vice-presidente da Associação Comercial e Industrial da Covilhã, começou por explicar o porquê do comércio na cidade não estar no seu auge.
"Podemos ter grandes estabelecimentos, mas se tivermos ruas pouco povoadas e habitadas, mais dificuldade o comércio tem para se afirmar enquanto realidade económica", assegura, ao mesmo tempo que aponta a primeira debilidade "à cidade, que tem uma crise de relacionamento com o centro". Miguel Bernardo salienta que "a Covilhã, curiosamente, não foi construída em torno de uma perspectiva de comércio, como é normal em termos de estruturas urbanas". E acrescenta que "a Covilhã é claramente uma cidade industrial, que foi construída nessa perspectiva de aproveitamento dos recursos naturais", em que "o comércio não foi o que resultou em termos da construção da cidade". No entanto, considera o comércio como uma parte determinante, mas que "tem grandes lacunas em termos de organização", revela.
Segundo Miguel Bernardo, o momento que se vive é decisivo para tomar opções e para ter relações com a cidade. Um exemplo que dá é o facto do comércio "não ter disponibilidade para pensar em novos horários, que é uma das coisas fundamentais a ser equacionada a curto prazo". Outra, é o "não estar sensível à questão do mix comercial e da sua própria oferta relativamente àquilo que são os novos desafios e as novas procuras do consumidor", continua.
"O comércio não quer entender que estamos a mudar enquanto consumidores e que, em conjunto, devemos saber e procurar acompanhar essas mudanças", comenta. E a melhor forma de o fazer é "com uma revolução das mentalidades de todo o centro", garante.
Do ponto de vista da organização, o responsável diz que "é preciso saber contar com uma opção estratégica e clara de quais são os desígnios e os públicos". Uma possível solução que Bernardo dá a conhecer é saber viver a cidade. "Se não se viver a cidade, se não tivermos entrosados com a cidade e tivermos o vício de usar a cidade e o centro, o comércio pode fazer tudo". Já pelo contrário, "se o comércio não souber dar passo no sentido de integração, a cidade pode fazer tudo porque o comércio não vai ter resultado algum disto", enfatiza.

"A crise não justifica tudo"

A crise económica que o País atravessa não é, de facto, a única causa do comércio não andar sobre rodas. Tal como Miguel Bernardo indica, "o comércio é mais do que a economia e a crise não está só situada no âmbito das dificuldades económicas, porque estas não podem, nem devem ser uma espécie de paragem no tempo". Deste modo, é necessário ter "uma visão mais alongada em relação à contextualização da crise e dos problemas do comércio", salienta.
Apesar de Bernardo admitir que a crise é um dado evidente, "não se pode mascará-la, nem tê-la como referência". Antes pelo contrário, pois "atitudes têm que ser posicionadas para dar a volta àquilo que é o momento pós-crise", argumenta. E evidencia: "Se quisermos ter uma atitude de mudança perante as hipóteses de crise, temos que ter tambérm uma solução". E a solução para o vice-presidente da Associação passa por "conhecer as debilidades e perceber que esta interacção e relação comércio / cidade, é que determina o sucesso do comércio, da Covilhã", sublinha.