Carla Loureiro
NC / Urbi et Orbi


Aceder a prédios altos é uma dificuldade dos bombeiros

Que na Covilhã existem prédios com sete, oito e mais pisos, todos sabemos. Mas que a corporação dos Bombeiros Voluntários não tem equipamento para socorrer pessoas e bens caso algo aconteça num desses prédios, se calhar nem toda a gente sabe. Mais grave ainda, é que com a escada de que dispõem actualmente dificilmente conseguirão salvar pessoas em prédios com mais de cinco andares.
A reivindicação é de há muito, mas tarda em concretizar-se. Todos os anos, principalmente na comemoração do aniversário da corporação, são feitas promessas Porém, a distância das palavras aos actos continua a ser bastante. Assim, em Março do ano passado, a Assembleia de Freguesia de Santa Maria aprovou a constituição de uma comissão, cujo único objectivo passa por angariar os 550 mil euros necessários para a aquisição de uma auto-escada para os Bombeiros Voluntários da Covilhã (BVC). Um equipamento que, considerando a degradação e dificuldade de acesso na Zona Histórica, existência de fábricas na cidade, e a abertura da Auto-Estrada da Beira Interior (A23), é vista como o meio mais eficiente para evitar males maiores. “É imperioso a aquisição desta plataforma. A nossa cidade tem um perímetro cada vez mais vasto, o nosso Centro Histórico é um autêntico ‘barril de pólvora’ e a A23 também trás perigos, os quais se podem tornar difíceis de suprir”, alerta José Trindade, presidente da Assembleia de Freguesia de Santa Maria e membro da Comissão.
Depois de algum tempo “paralisada por causa das férias”, a Comissão quer retomar novamente a sua missão. Agora, com “mais profundidade”. Assim, explica António Rebordão, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria, a campanha de peditório vai alargar-se às 31 freguesias do concelho, através de um contacto mais directo. “Vamos, juntamente com um bombeiro, bater às portas das pessoas e explicar-lhes porque é que estamos a fazer este peditório. É que, se calhar, há ainda muita gente que não se apercebeu da enorme necessidade que constitui este equipamento”, esclarece. Além disso, as empresas do concelho, Governo Civil, Câmara Municipal da Covilhã e seguradoras vão ser outra vez contactadas para apoiarem esta iniciativa. “E se todos contribuirmos, as coisas tornar-se-ão mais fáceis e conseguiremos angariar uma quantia bastante significativa”, acrescenta António Rebordão, ciente da dificuldade em que se traduz a tentativa de conseguir juntar 550 mil euros. “Mas a auto-escada não é uma miragem”, adverte, esperançado e optimista, o autarca, depois de ter a notícia de que a Assembleia Municipal da Covilhã tinha acabado de contribuir com três mil e 500 euros para a causa. Uma verba que a juntar-se à já recolhida perfaz um total de 10 mil euros angariados até à data.

“O Governo tem que acordar”

Apesar do espírito de solidariedade subjacente à Comissão, os sentimentos são ambíguos. “Sinto-me ‘preso’. Não podíamos, nem devíamos andar a fazer isto, pois aos bombeiros já lhes basta o seu dia-a-dia. Mas também se não tiverem instrumentos de trabalho para aplicar o que aprenderam e conseguirem socorrer as pessoas, não vale de nada”, desabafa Emídio Martins, presidente da Direcção dos Voluntários serranos. E questiona: “Quero saber onde é que o Governo e o Serviço Nacional de Bombeiros aplicaram o dinheiro, se toda a gente sabe que há 20 anos para cá esta corporação não recebe mais que 100 mil euros?”.
Embora pelas suas palavras sobressaia a consciência de que esta iniciativa se torna motivo ainda maior para que o Estado continue a desresponsabilizar-se, a António Rebordão, José Trindade e Emídio Martins move-os o facto de além dos bombeiros, também as pessoas da Covilhã terem direito a este equipamento. “Não estamos a fazer política, mas sim solidariedade. Iremos até onde for necessário pois o Governo tem que acordar para esta realidade e evitar uma catástrofe”, adverte o presidente da Junta de Santa Maria.
Ambos repetem o número da conta aberta no banco Montepio Geral (003600119910002147347), esperando que a causa deixe de ser somente de uma comissão e passe a ser de todo o concelho.