Vasco Gonçalves (ao centro) falou do passado e do presente do País
Conferência na UBI
Uma praça de gente madura

Encabeçou quatro Governos Provisórios na época do Processo Revolucionário em Curso (PREC). Vasco Gonçalves, um militar de carreira ligado à Revolução dos Cravos esteve na Covilhã.


Por Eduardo Alves


Agarrou nos destinos do País logo após o derrube do regime. Vasco Gonçalves, militar de carreira que chega a general através do Movimento das Forças Armadas (MFA) e de todo o papel desempenhado no derrube do fascismo, explica os tempos conturbados do PREC.
O anfiteatro da Parada, local onde em tempos estiveram também as vozes e os comandos militares da Covilhã, enche-se agora para ouvir o chefe dos II, III, IV e V Governos Provisórios. A esta personagem se devem canções como "Força, força companheiro Vasco", mas também "reformas essenciais que prepararam Portugal para a adesão à Comunidade Europeia".
A convite do Partido Comunista, o general Vasco trouxe à Covilhã um resumo alargado das medidas que julgou "melhores para uma nação à beira da guerra civil". Palavras conturbadas por uma voz cansada, a mesma que contribuiu para "a viragem à esquerda de toda uma pátria". Logo na criação do MFA, Vasco Gonçalves lembra que "existiam cores políticas de todos os quadrantes". No entanto, considera natural que após a libertação de um regime de "extrema-direita" e com o aparecimento do PCP e PS, "o País estivesse mais simpatizante com políticas dessa área".

Aliança Povo/MFA foi motor da revolução

"A terra para quem a trabalha", um slogan repetido vezes sem conta pelo Portugal de Abril. Uma das mais importantes, mas "também das mais polémicas" medidas tomadas pelo executivo de Vasco Gonçalves, prende-se com a Reforma Agrária. A constituição de cooperativas e a distribuição de terras "foi uma medida difícil".
No entanto, o general não sente que "tivesse agido de forma incorrecta". Antes pelo contrário, "era necessário tirar da fome e da miséria um povo oprimido". O fosso entre ricos e pobres, naquele tempo "era imenso". Talvez venha daí a explicação para a "adesão expontânea" dos populares ao movimento revolucionário. O motor da revolução "foi o povo e a sua ligação às forças armadas".

Políticas desajustadas

Mesmo fora da vida política activa, o criador do "Gonçalvismo" tece várias críticas ao actual Governo. Para Vasco Gonçalves, "um homem que será sempre contra a liberalização dos mercados", as actuais políticas de contenção "vêm hipotecar o futuro do País". Para o antigo primeiro-ministro, deveria de existir "uma maior justiça social", em todos os campos.
Outra das medidas que julga "contrárias ao espírito português" tem a ver com a ajuda de Portugal aos Estados Unidos na invasão do Iraque. Vasco Gonçalves mostra-se contra "ideias terroristas para combater o terrorismo". O apelo "para mudar toda esta situação", fica na arma do povo, "aquela que Abril veio implementar e que é a mais importante de todas: o voto".