Lucílio Baptista, ao centro na foto, diz que o Governo e a Liga têm que toamr medidas para pôr fim à turbulência na arbitragem portuguesa
Futebol
Árbitros fazem balanço negativo do último ano

No rescaldo do caso “Apito Dourado” Lucílio Baptista fala em “ano mau para a arbitragem em Portugal”. O árbitro queixa-se da contestação em torno do sector mas também deixa recados para dentro: é preciso mais e melhor formação.


Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


“Este foi um ano mau para a arbitragem em Portugal. E estão a encobrir esta situação com o facto de os grandes campeonatos nacionais terem corrido bem”. Assim, sem papas na língua, Lucílio Baptista deu início à sua intervenção no colóquio “Mundo da Arbitragem” promovido, na última sexta-feira, 14, no Académico dos Penedos Altos, na Covilhã.
O árbitro, que dois dias depois esteve no Jamor a apitar a final da Taça de Portugal, faz um balanço negativo da última temporada e mostra-se pessimista em relação a melhorias num futuro próximo: “O meu grande receio é que no próximo ano volte a suceder o que aconteceu neste”. Segundo Lucílio Baptista, a “turbulência” na arbitragem “é cíclica, e se a Liga e o Governo não tomarem medidas daqui a alguns anos teremos novos casos”. O problema, defende em jeito de crítica interna, “é que a formação é mal feita e os árbitros não são bem preparados”. O único representante português na classe a apitar no Euro 2004, é ainda apologista da inclusão de ex-árbitros nos quadros dirigentes dos organismos que regulam o sector, e aponta os nomes de Carlos Valente, Vítor Pereira e Jorge Coroado como exemplos a considerar.
Num tema que provocou acesas discussões, ou não se tratasse de “falar de árbitros”, não podia ter deixado de se falar no caso “Apito Dourado”. Ainda assim, os convidados de honra, Lucílio Baptista, Carlos Xistra e Luís Guilherme, presidente do Conselho de Arbitragem (CA), preferiram não se alongar no assunto. “Até prova em contrário todos são inocentes”, lembra Luís Guilherme que, em caso de culpa provada defende “sem contemplações” o afastamento das pessoas dos cargos que ocupam.
No que toca a arbitragem propriamente dita, o presidente do CA da Liga reconhece que a arbitragem em Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer, mas acrescenta que “hoje está muito melhor que há 10 anos atrás, com tendência para evoluir ainda mais”. O problema, diz, “é que durante muitos anos a arbitragem fechou-se sobre si própria e não se abriu a opiniões de outros sectores exteriores a si”. Situação que diz já não suceder nos dias de hoje, em que os organismos que a tutelam recebem todo o tipo de colaborações externas como é o caso da universidade.

Sorteio ou nomeação?

Em destaque esteve também a nomeação dos árbitros. Um tema que continua a dividir a opinião pública. Ao argumento da “maior transparência do sorteio” opõe Luís Guilherme a “melhor gestão de recursos permitida pela nomeação”. Na opinião do dirigente, “os árbitros não são todos iguais, e apesar de estarem todos na Primeira Categoria, cada um tem características próprias”. Para um jogo mais importante, explica, “é melhor um árbitro com um conjunto de predicados que um jovem em início de carreira ainda não tem. E pelo sistema de sorteio puro, qualquer um pode apitar qualquer jogo”.
Quanto à “histórica” contestação ao trabalho dos “homens do apito”, que tanta tinta faz correr ao longo dos campeonatos e, principalmente, a seguir aos jogos dos “grandes”, o presidente do Conselho de Arbitragem lembra que “os árbitros também são homens e, como tal, estão sujeitos a errar”. No entanto, sublinha, “dirigentes e jogadores podem ser punidos disciplinarmente, mas em todo o fenómeno do futebol, são os árbitros os únicos a ser castigados por erros técnicos”. E explica: “Se um jogador falhar uma grande penalidade, no próximo jogo volta a ser titular. Se o árbitro assinalar, ou não, mal um penalti, fica de fora na jornada seguinte”. As pessoas, diz, não se dão conta disto e perdem mais tempo a analisar os erros de quem arbitra do que a reflectir sobre o que correu mal na sua equipa, ou na estratégia.
Num encontro que contou com a participação de um grande número de árbitros do distrito, Luís Guilherme deixou ainda uma mensagem de incentivo. Actualmente o número disponível para os campeonatos nacionais está muito abaixo do necessário (cerca de três mil para uma necessidade de oito mil), mas há jovens nos escalões inferiores que têm potencial para ascender às categorias nacionais. O Interior, conclui, “também já não é desculpa para não evoluir porque a Covilhã tem o exemplo do Carlos Xistra, que com trabalho e dedicação conseguiu chegar à I Categoria e, em breve, pode integrar o lote de árbitros internacionais”.