O estudo aponta para a preservação do património existente na região
Doutoramento em Ciências da Comunicação
A força do Jornalismo

Analisar as transformações sociais e políticas que emanam dos jornais dos primeiros 30 anos do século XX foi o objectivo desta tese. Desde as elites até aos operários fabris, são vários os agentes sociais abordados neste estudo.


Por Eduardo Alves


Os primeiros passos da imprensa regional estão agora delineados em forma de tese. Folheadas edições de jornais que já desapareceram, levantado o manto da história da comunicação local, desvenda-se a força e a importância dos meios de comunicação no início do século XX.
Maria Regina Gomes Gouveia, professora no Instituto Politécnico da Guarda (IPG), sempre se confessou “uma apaixonada pelos jornais”. Daí que a sua tese de mestrado também já tenha abordado este mesmo tema. Gostou do trabalho desenvolvido e decidiu partir para uma tese de doutoramento na mesma área. Surge assim “A integração entre o universo político e o campo da comunicação – A imprensa e as elites beirãs (1900-1930). Esta tese, que foi defendida na passada semana, e através da qual Maria Regina Gouveia conseguiu o grau de doutor, visa quantificar a capacidade de mobilização e transformação social, bem como, a forma de utilização da imprensa regional nos sistemas social, político, laboral e económico de toda a região Centro.
A relação entre as elites aparece na forma de quem e como controlava as publicações. O patronato, industriais de lanifícios e outros abastados tinham sempre mais acesso à imprensa. A autora desta tese não deixa de referir que esta é uma situação que beneficiava sobremaneira, “do elevado índice de analfabetismo e das precárias condições de vida da população”. Estes e outros factores levavam a que os jornais fossem controlados, na sua maioria, pelas elites políticas já instaladas. Um controlo que passava sobretudo pela opinião e linha editorial presente nos jornais de então.
Todavia, esta tese aponta também para novos factos. Um exemplo disso mesmo está situado ao nível da imprensa regional produzida pelos operários, mais propriamente, pelos tecelões. Gente que mantinha publicações com um grau de importância e rigor literário apreciável.
Das principais conclusões retiradas deste estudo, destaque-se a ligação da política local aos jornais, mas também, a utilização de alguns títulos para a defesa dos operários.



Um espólio que se perde a cada dia

A autora do doutoramento descobriu em Manteigas uma publicação que não estava registada na Biblioteca Nacional

Pesquisar a imprensa regional foi, no caso de Maria Regina Gouveia, “uma tarefa complicada”, explícita. Segundo a professora do IPG, “o arquivo das publicações que actualmente existe é escasso e encontra-se mal conservado”. Muitos títulos não estão guardados em formato de microfilme ou em suporte digital. Outros há que “já não existem na região e as pessoas têm de se deslocar à Biblioteca Nacional”, adianta a autora desta tese.
Na perspectiva de Maria Regina Gouveia – que descobriu em Manteigas um jornal “que não se encontra catalogado na Imprensa Nacional, mas está arquivado na câmara local” – é tempo de se criar um organismo especializado “na recolha e tratamento de todo este espólio cultural”. A criação de uma estrutura deste género é também uma forma “de incentivar o estudo deste tema”, ainda pouco desenvolvido, segundo a autora da tese. Um estudo que foi apresentado e discutido na sala dos Actos da Reitoria da UBI e teve como júri António Carreto Fidalgo, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, Manuel Joaquim da Silva Pinto, professor catedrático da Universidade do Minho, António dos Santos Pereira, professor associado da Universidade da Beira Interior, António Fernando Marques Ribeiro dos Reis, professor auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, estes dois últimos membros do júri desempenharam também a função de arguentes. O júri foi ainda composto por João Carlos Ferreira Correia, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, Joaquim Mateus Paulo Serra, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior e Maria Cristina Mendes da Ponte, professora auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.