António Fidalgo

Livros de Códigos

O livro O Código da Vinci da autoria de Dan Brown tem sido um sucesso de vendas em todo o mundo, e Portugal não constitui a excepção. O livro encontra-se nos escaparates das livrarias de norte a sul do país e também aqui teve de ser reeditado um bom número de vezes. Misturando enigma, enredo policial, alguma cultura geral, suspeições sobre fontes de poder oculto, o cerne do livro reside na teoria de que a história do cristianismo, como a conhecemos, assenta na ocultação de um segredo tremendo: a relação amorosa e matrimonial de Cristo com Maria Madalena, e a prole daí resultante.

O valor literário da obra é baixo, abusa de lugares comuns, comete erros e, pelo menos na tradução portuguesa, dá-se o título cardinalício de eminência a um simples bispo. Mas o sucesso pode quiçá advir de um certo gosto contemporâneo por enigmas tal como encontrámos nos obras de ficção que tornaram mundialmente famoso Umberto Eco, em particular O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault, e ainda nos livros A Tábua de Flandres e O Clube Dumas de Perez-Reverte, apenas para citar nomes conhecidos. Há indiscutivelmente um gosto por histórias de mistérios, onde a verdade é escondida e codificada, e em que se revela apenas através de um trabalho de descodificação e desocultação.

Não menos interessante que os romances referidos é um recente livro temático sobre códigos ou, melhor, sobre a sua história, intitulado O Livro dos Códigos da autoria de Simon Singh, um escritor que há alguns anos atrás escreveu o best-seller O Teorema de Fermat sobre a intrigante quanto simples equação do matemático francês que só viria a ser resolvida duzentos anos depois, na década de noventa do Século XX, por Andrew Wiles. (Estes dois livros encontram-se traduzidos em Portugal). De uma forma acessível Singh descreve a importância dos códigos, o seu funcionamento, as técnicas de codificação e as de descodificação.

Sempre houve a noção de que as coisas e os sinais têm significados mais profundos e de que ser inteligente reside na capacidade de atingir esses significados. Há uma realidade à superfície que pouco conta, e há uma mais profunda que, essa sim, é determinante do que se passa e do que nos acontece. Ao fim e ao cabo, a humanidade tem a necessidade imperiosa de postular e de encontrar um sentido, não visível à primeira vista, do que de trivial e quotidianamente ocorre no mundo para daí dar um sentido à própria existência.

A vida é governada por códigos, por múltiplos e variados códigos, mas, porque nados e criados neles, não nos damos conta disso a maior parte das vezes. A língua que falamos, as regras que marcam o dia a dia, são códigos que constituem a nossa cultura e a demarcam das outras culturas, essas com códigos diferentes.

A vantagem do sucesso dos livros sobre códigos é que neles podemos encontrar boas introduções à natureza codificada da existência e do mundo e aos extractos de sentido que porventura existam sob a superfície do que salta à vista.