António Fidalgo

Um Erasmus nacional

O programa comunitário Erasmus apoia o intercâmbio de estudantes europeus entre as universidades de diferentes países. O Governo português anuncia agora um Erasmus nacional, com a finalidade de promover o intercâmbio de estudantes entre as universidades portuguesas. É uma medida altamente louvável que só peca por tardia e por estar condicionada financeiramente à ajuda de Bruxelas. Vale mais tarde do que nunca, claro; mas lamenta-se que mesmo tarde ainda dependa de uma condição externa e não seja, portanto, encarada, como prioritária na política do ensino superior. Se o fosse, então deveria ser levada adiante, houvesse ou não houvesse um financiamento externo.

A mobilidade dos estudantes é crucial. É mudando de universidade, de cidade e de ambiente, cortando com rotinas instaladas, enfrentando situações novas e inesperadas, que os estudantes são levados a questionar coisas que antes até nunca se lembraram de questionar. A mudança de lugar, de professores, de programas, induz o estudante a uma nova percepção dos estudos, dá-lhe uma perspectiva diferente, permite-lhe fazer comparações e avaliações, obriga-o a um esforço de adaptação. Ou seja, a deslocação dá ao aluno uma visão diferente do que anda a fazer, rompe com hábitos instalados e muitas vezes não ou mal pensados, obriga-o a olhar criticamente para os seus estudos, exige do aluno um esforço para enfrentar algo novo e estranho.

Se o cultivo de muitas plantas exige o seu transplante, se as flores querem que se lhes mude a terra de vez em quando, quanto mais importante não é que os estudantes mudem de poiso. Sendo válido para todos os escalões de ensino, o princípio da mobilidade é imprescindível no ensino superior.

Em Portugal, onde há uma triste e infeliz mania de escolher a universidade mais perto de casa, pela simples razão de cama, mesa e roupa lavada na casa dos paizinhos, sofre-se de uma mobilidade baixíssima dos estudantes. Só a tão baixa cultura de ensino superior e o tão baixo apreço pelo conhecimento científico é que impedem de ver o atraso e a gravidade que essa falta de mobilidade acarreta. Se não se rompe com o comodismo e o facilitismo quando se é jovem universitário, então é provável que nunca se encontrem as necessárias energias para renovar e inovar seja o que for.

A UBI beneficiaria muito com um programa de intercâmbio de estudantes. Beneficiariam desde logo os seus estudantes porque teriam ocasião de conhecer outras universidades, ao menos durante um semestre. Beneficiariam os seus professores porque confrontados com estudantes de outras universidades, com experiências diferentes e eventualmente mais exigentes. Beneficiaria também porque passaria a ser conhecida por muitos estudantes universitários de Lisboa e Porto que viriam estudar para aqui um semestre ou mais.

Tudo o que foi dito sobre a mobilidade dos estudantes vale também para a mobilidade dos professores.