Por Filipa Minhós


O conhecido sacerdote lançou o repto aos estudantes universitários no sentido de serem feitas mais investigações de cariz popular

O Anfiteatro I da Universidade da Beira Interior recebeu com entusiasmo o padre António Fontes para uma palestra sobre a importância ressurgida dos jogos infanto-juvenis na educação. Esta iniciativa, uma das que mensalmente vão sendo realizadas, partiu do Sindicato de Professores da Zona Centro, no sentido de recriar o aproveitamento dos jogos tradicionais pelos docentes da região, quer a nível pedagógico, quer a nível cultural.
A conferência, que decorreu no passado dia 18 de Outubro, foi presidida pelo padre António Lourenço Fontes, de Vilar de Perdizes, conhecido do público em geral pelos seus exorcismos, crendices e bruxarias. Todavia, tem um igual fascínio pelos jogos populares e por tudo o que diga respeito à cultura do povo. “O meu suporte, a minha árvore são o saber popular, a medicina popular, as carências populares, a música popular, os jogos populares” – refere.
Numa sociedade cada vez mais individualista, em que imperam os jogos solitários, o sacerdote reergue o valor do jogo tradicional, intersubjectivo, ao qual estão associadas a cooperação, a cidadania, a tolerância e a aprendizagem. “Através dos jogos populares, os professores podem inculcar nos seus alunos uma aprendizagem motivada, ou seja, divertida, mas simultaneamente didáctica” – afirma Carlos Costa, Coordenador da Direcção da Covilhã do Sindicato dos Professores da Zona Centro.




Recuperar as tradições

Jogos como a Bilharda, o Pião, o Moinho de Vento e o telefone com caixas de fósforos e fio foram relembrados por todos no anfiteatro. “Apresentaram-se aqui jogos fantásticos, alguns dos quais já estavam esquecidos na nossa memória”, continua Carlos Costa.
Afastado das suas actividades eclesiásticas, António Fontes criticou o dogmatismo da Igreja Católica e a sua pouca receptividade quanto às potencialidades deste tipo de iniciativas de cariz popular. “Estou na margem do regime oficial da Igreja, pois tento fugir um bocado ao autoritarismo” adianta o sacerdote. O conhecido padre questiona também a não inclusão do gosto popular na fé religiosa. Para ele, “a missa deveria ser animada por música popular, e não por música sacra”.
Segundo o mesmo, os estudantes universitários deveriam fazer investigações sobre esta temática, com a finalidade de não deixar morrer o que constitui a alma do povo: a cultura. Padre António Fontes deixa ainda, para os mais curiosos sobre o assunto, o endereço da sua página da Internet.