Por Eduardo Alves


O encontro que juntou alunos de economia de todos os pontos do País reuniu várias entidades desta área

No anfiteatro das sessões solenes, Veiga Simão traçou, de modo informal, as linhas mestras do que foi o ensino superior em Portugal. Uma frase no passado, também lembrado pelo professor, um dos mais entendidos na matéria. Até porque, por estas alturas o superior atravessa um período “decisivo de afirmação e mudança”, salienta um dos mentores da UBI, perante a sala preenchida por estudantes.
Veiga Simão foi um dos oradores a intervir nos dois dias do VII Congresso Nacional de Estudantes de Economia e Gestão (CNEEG), iniciativa que esteve a cargo do Núcleo de Estudantes de Economia da UBI (UBINEEC). Durante este evento estiveram também na Covilhã outros nomes ligados ao mundo da gestão e das ciências sociais, como António Simões Lopes, bastonário da Ordem dos Economistas.
Contudo, foi a presença de Veiga Simão, ao lado de Manuel Santos Silva, reitor da UBI, que suscitou mais atenções nos presentes. Veiga Simão apresentou os resultados da análise feita ao superior em Portugal. Um trabalho encomendado ao professor pelo Governo. Este relatório, que muitos consideram a futura “carta magna das Universidades”, dá especial atenção à situação do Processo de Bolonha.




Urgência em mudar

De tudo o que viu ao longo de quase meio ano, Veiga Simão aponta baterias para o poder político. O antigo ministro da Educação diz mesmo que “Portugal é rei em leis e contra leis”. Isto porque, no que se refere ao Processo de Bolonha, os requisitos impostos às Universidades pelo poder político, “só parte foram cumpridos”. Contudo, os dirigentes da nação dizem que as instituições “têm de estar preparadas para a sua implementação”.
O relacionamento entre o poder político e o académico, “não deve obedecer a modelos autoritários”. Uma afirmação do professor que ganha ainda mais sentido, quando este fala nas promessas eleitoralistas de alguns autarcas. Muitos votos são ganhos através de promessas de implementação de Universidades e Politécnicos nas diferentes regiões do País. Sem fugir ao tema, Veiga Simão encarou e explicou o polémico caso de Viseu. A cidade tem ensino superior politécnico e vai surgir, dentro em breve, uma Universidade, que para o antigo ministro “deve ser exemplo a seguir”. A instituição a criar em terras de Viriato “estará virada para a Europa”. Uma opção que deve ser tomada pelas restantes instituições.
Todo o Processo de Bolonha “está virado para a Europa”. Este modelo único, que prevê a uniformização do ensino superior no velho continente, vislumbra-se como um desafio “despolitizado” a todas as escolas.



UBI foi caso exemplar

O aparecimento de múltiplas instituições de ensino veio trazer o caos ao sector

Avaliação e creditação apresentam-se como os dois factores de excelência no Processo de Bolonha. Estes requisitos não têm sido cumpridos por todos os estabelecimentos, refere o autor do estudo feito sobre o superior. Políticas desregradas na criação de cursos, de instituições e de licenciados conduziram as Universidades portuguesas “a um autêntico caos”.
Veiga Simão destaca, ainda assim, alguns exemplos “bastante positivos”, entre os quais inclui a UBI. Na época da sua criação, os estudos prévios, as licenciaturas enquadradas com as necessidades da região e do País e o cuidado na qualidade e excelência “dão agora frutos”. O antigo ministro, acabou também por apresentar alguns números comparativos do superior em Portugal e na Europa. Segundo as contas de Veiga Simão, o atraso estrutural do nosso País é de tal forma que “só em 2050 vamos conseguir igualar a média europeia em educação e ensino”.




Jornadas pouco concorridas

Para a organização, “este congresso nacional podia ter sido mais concorrido”. Segundo os números do UBINEEC estiveram inscritos no evento da UBI, “pouco mais de 70 alunos”. As datas, que coincidiram com acções de luta contra a lei de base do ensino superior, “retirou participantes ao evento realizado na Covilhã”, adianta Miguel Espírito Santo.
O balanço “é positivo”, do ponto de vista da qualidade dos participantes no congresso. O núcleo de economia conseguiu trazer à UBI “nomes bastante importantes nesta área”. As próximas acções promovidas por este grupo de estudantes “vão ter contas mais positivas”, sublinham os responsáveis.