| A Comissão Europeia 
                      anunciou na semana passada um conjunto de sete medidas que 
                      têm como objectivo atenuar o impacto da eliminação 
                      total das taxas alfandegárias para os produtos têxteis 
                      e de vestuário entre os estados que fazem parte da 
                      Organização Mundial do Comércio (OMC), 
                      prevista para Janeiro de 2005. Mas para José Robalo, 
                      presidente da Associação Nacional dos Industriais 
                      de Lanifícios (ANIL) e da Federação 
                      da Indústria Têxtil e do Vestuário (FITVP) 
                      este é "um passo necessário mas não 
                      é suficiente". Mais de 50 países, entre os quais Portugal, são 
                      signatários da Declaração de Istambul. 
                      Um documento que apela ao prorrogamento do prazo para a 
                      liberalização por mais três anos, para 
                      durante esse período serem criadas as medidas necessárias 
                      para um "comércio leal". Isto porque acusam 
                      países como a China ou a Índia de concorrência 
                      desleal, por não praticarem um comércio justo, 
                      livre e de não cumprirem as regras estabelecidas 
                      pela OMC. Por isso vêem estas sete medidas apenas 
                      como uma meia vitória, uma vez que a principal reivindicação 
                      continua a ser a mesma e, a pouco mais de dois meses do 
                      prazo, ainda esperam ver o seu pedido atendido.
 O estímulo da pesquisa e da inovação, 
                      a criação de fundos estruturais para fazer 
                      face a crises imprevistas, a garantia da formação 
                      profissional contínua, o reforço contra a 
                      pirataria e a contrafacção, a conclusão 
                      da zona euro-mediterrânica, melhorar o acesso aos 
                      mercados de países terceiros e o reforço do 
                      diálogo com a China são as medidas propostas.
 No entanto, José Robalo sublinha que havia outros 
                      aspectos preconizados. Exigências relacionadas com 
                      o controlo de aspectos sociais e ambientais, como é 
                      o caso do trabalho infantil ou os materiais usados nos produtos. 
                      "Para que quem não cumprisse as regras mínimas 
                      fosse penalizado", frisa. "Porque nós não 
                      podemos estar a alimentar um sistema que é condenável", 
                      acrescenta. Mas diz que neste assunto, apesar de os estados 
                      reconhecerem os riscos iminentes, alguns têm receio 
                      de aprovar medidas mais restritivas porque há interesses 
                      e "lobbys" em jogo.
 
 Conseguir cláusulas de salvaguarda vai ser 
                      difícil
 
 Outra das intenções das associações 
                      ligadas ao sector é tentar accionar cláusulas 
                      de salvaguarda, à semelhança do que os Estados 
                      Unidos querem fazer em relação às importações 
                      da China, que já cobre 75 por cento do seu mercado. 
                      Nomeadamente no que diz respeito a calças, camisas 
                      de malha e de tecido e roupa interior. Uma medida que José 
                      Robalo considera ser difícil de implantar na Europa, 
                      ao contrário do que deverá acontecer nos Estados 
                      Unidos. E por isso teme que isso faça com que a China 
                      inunde a Europa com os seus produtos.
 José Robalo considera as medidas anunciadas positivas 
                      e acredita que podem fazer com que as dificuldades do sector 
                      possam vir a melhorar de uma forma gradual. Mas vê-as 
                      como medidas "globais" e diz que o seu impacto 
                      em cada país ou região depende da forma como 
                      forem implementadas em cada sítio. No que toca à 
                      formação o presidente da ANIL defende que 
                      é um aspecto a melhorar, uma vez que "alguma 
                      da formação que tem sido dada não é 
                      a mais adequada". "A formação não 
                      pode ser uma coisa estática. É preciso criar 
                      novos cursos. Dar uma formação mais voltada 
                      para os problemas da nossa zona e não se fazerem 
                      cursos só por fazer", advoga.
 "Portagens 
                        são atestado de estupidez às pessoas do 
                        Interior"
 O sector têxtil na região tem passado por 
                        dificuldades e, segundo José Robalo, o pagamento 
                        de portagens na A23 vai também afectar esta indústria, 
                        contribuindo para o agravamento do problema.
 O presidente da Associação Nacional dos 
                        Industriais de Lanifícios considera a medida do 
                        Governo "um atestado de estupidez às pessoas 
                        do Interior" e diz que até concorda com o 
                        princípio do utilizador-pagador, "mas então 
                        o exemplo teria que vir de Lisboa". E faz referência 
                        às injecções de verbas feitas pelo 
                        Estado para manter o Metro, a Carris ou a Transtejo, que 
                        todos pagam mas só alguns utilizam.
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