Os moradores do bairro não entendem "a diferença no tratamento" da autarquia
Penhas da Saúde
Campo de festas do bairro Penhassol demolido

Os melhoramentos no espaço foram da responsabilidade da Junta de Cortes do Meio. Os proprietários das construções em zinco pedem explicações, não entendem esta atitude e falam em pressões por parte da autarquia.


Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


A Junta de Freguesia de Cortes do Meio fez alguns melhoramentos no campo de festas onde se realiza a festa anual do Bairro Penhassol, que funcionava também como zona de lazer, sobretudo durante o Verão, mas a Câmara da Covilhã, no início de Outubro, derrubou as obras feitas e o que já se lá encontrava há mais algum tempo. Os proprietários das construções do bairro não têm uma justificação para esta atitude, que estranham, e não entendem porque é que ali perto está a ser feita uma outra intervenção quando o que ali tinham foi abaixo.
"A uns destroem e outros constróem. Parece que para os munícipes há dois pesos e duas medidas", frisa José Ramalho, um dos responsáveis que representa os proprietários do bairro, que se serviam do campo de festas. "O que nos indigna é porque é que o que nós ali tínhamos foi deitado abaixo e estão ali a construir outra coisa num terreno que ainda não foi autorizado para construção. Porque se nós tínhamos lá aquilo foi porque a Junta o construiu", sublinha Alberto Alves.
Em Maio a direcção da Associação dos Amigos das Penhas da Saúde contactou a Junta de Cortes do Meio onde observava que "o recinto de festas existente no local desde 1997 na Penhassol tem um inclinação negativa que, para a prática de desporto ou de outras actividades, não é o mais favorável". E pediam "apoio financeiro para a construção de muros de suporte de terras, a fim de nivelar o espaço para a boa prática de desporto bem como para a realização de festas e de actividades culturais". Em Junho o presidente da Junta de Cortes do Meio, Paulo Rodrigues, disponibilizou-se a fornecer a mão-de-obra desde que os proprietários dessem os materiais necessários, e as obras começaram.
Os responsáveis pela Penhassol dizem que é à Junta de Freguesia que cabe saber se a obra estava legalizada ou não e que, quanto a eles, ficaram com o espaço destruído, incluindo o palco que já tinha três anos e onde era celebrada a missa, e sem o dinheiro gasto no material de construção.

Junta das Cortes e Câmara não comentam

Na altura, Manuel Cameira, outro dos representantes da associação, diz que pensaram apresentar queixa contra desconhecidos, por não saberem quem derrubou a obra, e foram falar com o presidente da Junta. "Pediu-nos contenção porque disse que ia indagar e tratar disso, mas não fez nada", frisa. Quanto a Paulo Rodrigues, eleito numa lista independente apoiada pelo PSD, recusa-se a prestar declarações sobre o assunto. Não adianta se a obra estava licenciada ou não e porque é que a autarquia decidiu tomar essa atitude. E remeteu qualquer explicação para a Câmara Municipal. Só que Carlos Pinto recusa-se também a prestar esclarecimentos sobre esta matéria. "Não tenho nada a dizer sobre isso", foi a resposta do edil.
Quanto à construção que está a ser feita noutro local próximo do bairro, em terrenos baldios, um depósito de água, Manuel Cameira salienta que não tem nada contra. Apenas não entende a "diferença de tratamento". Este responsável sublinha que os baldios até podem ser desanexados para fins de utilidade pública e após uma assembleia de compartes. Mas entende que o campo de festas tinha também um carácter social.
Para além disso garante que a obra que está a nascer a cinco metros das construções em zinco não tem qualquer edital afixado. Pelo que têm dúvidas acerca da sua legalidade. E interpreta o gesto da autarquia como uma forma de pressão. "É uma coação . É uma forma de intimidar as pessoas para ver se elas desistem de ter aqui as suas casas. Porque poderá haver interesses ocultos no espaço porque é o único terreno aqui para construir", acusa Manuel Cameira.
Fernando Matos, director do Parque Natural da Serra da Estrela, confirma que o que está ali a ganhar forma é um depósito de água e informa que por estar fora do perímetro urbano tem o parecer, favorável, desta entidade. No entanto, Fernando Matos acentua que devido ao enquadramento paisagístico esta infra-estrutura de utilidade social vai ser construída com algumas condicionantes que a Câmara se comprometeu a seguir, como a obrigatoriedade do revestimento em pedra.
E embora nem a Junta de Freguesia de Cortes nem o presidente da Câmara queiram prestar declarações o administrador dos SMAS, Alçada Rosa diz que o depósito, que "vai servir todas as Penhas da Saúde, para comodidade das pessoas, está dentro da legalidade".