Um acontecimento musical




 

 

 

 

 

 

 

Transliner Light



Universal | 2004


Para um conhecedor da história do jazz qualquer registo de Alice Coltrane é um acontecimento. Senhora de uma discografia de qualidade acima da média e com um hiato de praticamente 12 anos desde a última gravação para a Warner, uma gravação de Alice Coltrane em 2004 constitui um marco.
Alice Mcleod casou com Coltrane e a partir de 1965 ajudou o músico na sua viagem mística/musical. Antes tinha tocado com nomes grandes e depois da morte de John quase sempre se rodeou de excelentes músicos: Joe Henderson, Pharoah Sanders, Rashied Ali, Jimmy Garrison, Rahsaan Roland Kirk, Charlie Harden, entre outros. Afirmou-se como grande pianista, capaz de incorporar linguagens orientais ou de ritmos africanos nas suas interpretações em manto, como que envolvendo tudo e todos.
Aqui aparece com duas formações rítmicas e com sopros entregues aos seus dois filhos. Por um lado, temos Charlie Haden e Jack DeJohnette no baixo e na bateria, quase como símbolo do passado. Por outro, surge James Genus no baixo e Jeff Tain Watts na bateria (nas faixas 2, 4 e 7). Ravi Coltrane no soprano e tenor (e percurssão no primeiro tema), e Oran no saxofone alto (tema 6). O disco começa bem. «Sita Ram» constitui um belo trabalho de Alice no órgão, conseguindo manter aberto o espaço que cruza a liberdade mística com a musical. Com Watts e Genus a acompanhar o seu piano em «Walk With Me», respeita o espírito clássico e swinga cem deixar de marcar o seu estilo. «Translinear Light» é um grande tema com Haden e, particularmente DeJonette, em bom plano. «Blue Nile» é recuperado do grande disco Alice Coltrane, «Ptah the El Daoud», numa interpretação certinha.
Nas duas composições de John Coltrane, «Crescent» e «Leo» a inspiração é divergente. Na segunda, Ravi mostra algum rago e proporciona um dos melhores momentos do disco. Apesar de ser bom, o álbum está longe do esplendor do já referido «Ptah the El Daoud» ou dos essenciais «World Galaxy» ou «Journey in Satchidananda». «Translinear Light» é bom para matar saudades e... falta a harpa!