Por João Alves
NC / Urbi et Orbi


O cantar tradicional das janeiras é uma marca da região beirã

A noite fria e a concorrência do "derby" entre "leões" e "águias", que à mesma hora a caixinha que mudou o mundo transmitia, não foram factores suficientes para arredar dos bancos da Igreja da Misericórdia da Covilhã, um publico que encheu este espaço para presenciar o 3º Encontro de Janeiras dos ranchos folclóricos federados do concelho da Covilhã, a saber: Ourondo, Unhais da Serra, Paul, Refugio e Boidobra.
Tratou-se de uma iniciativa que visou essencialmente recuperar uma tradição na Cidade Neve, organizada pela Câmara Municipal da Covilhã (CMC) em colaboração com os ranchos federados do concelho e a Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.
Com efeito, as Janeiras são uma das tradições da época natalícia e versos como “Ainda agora aqui cheguei, logo pus um pé na escada logo o meu coração disse que mora gente honrada” são entoados nos cânticos que ecoam pelas ruas fora, por vezes, até ao raiar da manhã do Natal até ao Dia de Reis.
Mais enraizada no meio rural do que nas cidades, esta tradição continua a cumprir-se, muito por acção directa dos grupos de folclore que teimam em preservá-la, mesmo para além das fronteiras geográficas das suas freguesias, trazendo-a para a cidade, tal como aconteceu com “ Cantar Janeiras".
De facto, os covilhanenses que habitualmente não ouvem estes cânticos alusivos à quadra natalícia começam também a não dispensar as Janeiras que este encontro anual materializa, sendo uma forma de reviver a tradição.
O mesmo acontece nas freguesias que acolhem os protagonistas deste encontro, onde os residentes já não dispensam o cantar das Janeiras, constituindo motivo para as colectividades, associações e grupos folclóricos, cumprirem anualmente a tradição ao andar de porta a porta cantando as janeiras e desejando um bom Ano Novo, sempre na esperança que o dono da casa visitada abra a porta para que das duas uma: ou venha algum dinheiro para ajudar nas actividades do grupo, ou venha o convite para entrarem e comerem e beberem. Se puderem ser as duas coisas, tanto melhor.
Quanto ao repertório dos cincos ranchos federados do concelho covilhanense, não tem grandes variantes. Porém, cada um vai tentando transmitir a sua mensagem e os acordes das violas, tambor, acordeão, adufes entre outros instrumentos, e claro está, das vozes mais cristalinas do que nunca, resultante da boa acústica e do local a convidar à interiorização da palavra, fizeram deste espectáculo na Igreja da Misericórdia, um acontecimento do agrado público presente que não regateou aplausos a todos os grupos.

Para continuar

Dito isto, não restam duvidas quanto à relevância destes acontecimentos para os responsáveis dos ranchos federados. É consensual. Todos defendem iniciativas que de alguma maneira preservam a cultura tradicional da sua região ou não fossem eles os seus maiores embaixadores. Neste contexto, preferimos ouvir alguns populares. “ Gosto de muito de ouvir cantar as Janeiras. Venho sempre aqui à igreja ouvir os ranchos que cantam todos muito bem” adiantava-nos uma sexagenária, enquanto um homem de meia-idade ia abananado com a cabeça de forma afirmativa e subscrevia o que dizia a nossa interlocutora.
Quem estava satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos era a vereadora da Cultura da autarquia covilhanense, Maria do Rosário Pinto da Rocha. “ Apesar do frio e estar a dar na televisão um jogo de futebol entre dois grandes clubes lisboetas, temos a igreja cheia de gente o que atesta o sucesso deste encontro”. A vereadora adianta que” esta iniciativa já se realizou por três vezes, sempre com bons indicadores muito graças ao desempenho do ranchos federados. Assim sendo, esta é uma iniciativa com um balanço positivo e para continuar”.