Por Eduardo Alves



O decifrar do código genético foi um dos passos médicos mais importantes de todos os tempos

Uma das mais conhecidas investigadoras nacionais no campo da genética esteve na UBI. Maria do Carmo Fonseca, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa deslocou-se à Covilhã no sentido de dar a conhecer os resultados da “medicina na era pós-genómica”, que é como quem diz, “depois de estar descodificado todo o código genético do homem”. Este código presente em todos os seres vivos, cuja unidade central as ciências médicas chamam de “gene” tem, no entender de Carmo Fonseca, “a capacidade e a função de registar a nossa história, de forma a podermos saber o que já fomos”. Mas também, adianta a investigadora “dá-nos a possibilidade de estudar o que vamos ser”.
A conferência, segunda do programa “Despertar para a Ciência”, foi dirigida para um público composto por docentes de Química e de Medicina, investigadores na área das Ciências da Saúde e também recém-licenciados em Bioquímica. Contudo, a autora refere que as suas conclusões e até mesmo apresentações, "são feitas com uma linguagem generalista". Carmo Fonseca lembra que “este é um assunto que diz respeito a todos”. Daí que “as minhas investigações e resultados tenham sempre um carácter generalista”, para que todas as pessoas possam conhecer o que está a ser feito neste domínio. Um campo que lida “com tudo o que diz respeito ao homem”. São os genes, o código genético do ser humano que “o torna igual entre si, entre a sua espécie, mas também lhe confere identidade própria”. Isto porque, segundo a conferencista “o código genético da espécie humana é igual para todos os indivíduos, de uma forma geral, mas nenhuma pessoa é igual a outra, todos os seres têm identidade própria”.




Ingredientes de todas as formas

Imagine um livro de culinária, onde as várias páginas do mesmo apresentam receitas variadas. Assim é o genoma humano, ou de outra forma, o código genético do homem.
“Cada gene é uma receita que permite fazer vários pratos a partir dos mesmos ingredientes”. Neste “Livro de Pantagruel”, onde a medicina toma formas culinárias, “tem de haver algum cuidado na preparação dos pratos”. Este sentido figurativo, esta linguagem corrente, assumida de forma propositada pela investigadora, pretende alertar para “os benefícios que a genética representa para o ser humano, mas também o reverso da medalha”. Ou seja, “os muitos perigos que as investigações nesta área podem acarretar”, remata Carmo Fonseca.
Na perspectiva da conferencista, “falta um debate social em torno de uma série de questões”. Assuntos como “a clonagem, os transgénicos e os embriões que não são utilizados na reprodução medicamente assistida”. Temáticas que a autora abordou, ainda que de forma breve, na sua intervenção. Contudo, Carmo Fonseca acrescenta que “todos os progressos apresentam estas características”. A ciência tem, na maior parte das vezes, um lado bom e outro “menos bom”. No entender desta investigadora, os progressos operados em torno da genética, em torno do homem e de tudo o que está associado à sua espécie “são notáveis”. Dentro em breve “poderemos ter outras soluções para doenças como o cancro e outras”. Assim como “ter medicamentos personalizados”, mas também, “escolher a cor dos olhos dos filhos a ter, o sexo das crianças e outras características”. É portanto, com essas condições “que temos de lidar”.



Os benefícios da Internet

Todas as conferências são transmitidas via Internet

Vencer as barreiras do espaço e do tempo foram metas colocadas pelos pioneiros da World Wide Web. Os promotores deste ciclo de colóquios aproveitaram as potencialidades desta mesma ferramenta universal e decidiram transmitir as conferências para todo o mundo. Com uma simples câmara de filmar e um microfone ligados a um servidor, os conferencistas e os intervenientes partilham com o mundo, as suas teses e opiniões. Para os que até agora encontravam motivos de desculpa para a “não presença” neste tipo de eventos, podem continuar no seu local de trabalho, junto do computador “a acompanhar o desenrolar da conferência”, referem os organizadores. Através de imagens e sons, os cibernautas podem assim “marcar presença” em todos os eventos. A próxima actividade a ter lugar no âmbito deste ciclo de colóquios realiza-se no dia 9 de Março, pelas 15 horas, no anfiteatro 8.1 da UBI e também, claro está, na Internet. Isabel Ribeiro, do Instituto de Sistemas e Robótica da Universidade Técnica de Lisboa vem apresentar uma conferência intitulada “Uma viagem ao mundo dos robots”.