Anabela Gradim

Fazer História

O Urbi@Orbi cumpre este mês cinco anos de existência. O primeiro número do Urbi, que fora antecedido por uma edição experimental zero, estreou-se na Web a 08 de Fevereiro de 2000. Desde então, semanalmente, a edição nunca mais parou, de modo que hoje existem 260 números do jornal em arquivo que somariam, se impressos, milhares de páginas.
É um fado dos jornais. Quase sempre debaixo de fogo, muitas vezes justificadamente, pelas piores razões, uns poucos de anos volvidos tornam-se imprescindíveis para reconstituir a história das pequenas e grandes coisas. São os diários colectivos das populações. Quando a memória do que fomos começa a falhar, eles aí estão para contar outra vez a história.
Cinco anos de Urbi@Orbi também significam que semanalmente e com detalhe a história e as histórias da UBI foram aqui contadas, e esse é um registo que perdura muito para lá da frágil memória. Quem se lembra do que se passava na UBI a 04 de Maio de 2002, ou 2003? E no entanto, hoje é tão fácil saber: basta consultar os arquivos do jornal. O Urbi informa e cria laços entre a comunidade ubiana, mas é também uma crónica detalhada da vida da instituição, e nesse sentido, faz história.
Por uma outra razão mais humilde, o Urbi fez também história ao ser o primeiro jornal académico on-line, e com periodicidade semanal. E isto, é como um grau académico – um título que não pode ser-lhe retirado. Se as suas edições não forem interrompidas, o Urbi será sempre o primeiro – outros serão o segundo, o terceiro, o melhor, o pior. Mas primeiro, será o nosso.
É pouco, cinco anos, em anos de jornal. Pode ser, mas num país onde muitos projectos jornalísticos têm soçobrado às dificuldades, e onde até, suprema originalidade, já fecharam jornais que nunca chegaram a abrir, cinco-anos-cinco parece muito. Devem-se à visão do seu director, António Fidalgo, que nunca se conformou nem esmoreceu perante as dificuldades. E recordo-me que quando o projecto era ainda uma ideia algo nebulosa e fui chamada a colaborar, a minha primeira iniciativa foi elaborar uma extensa lista de todas as possíveis dificuldades: reais, imaginárias, e virtuais. Claro que nem todas se verificaram. As que apareceram foram ultrapassadas. Na ocasião nada disso importou ao director, e ainda bem.
Deve-se também o Urbi ao apoio da reitoria, que ao longo destes cinco anos nunca faltou; e ao denodado trabalho dos seus chefes de redacção, todos antigos alunos: Catarina Moura, Raquel Fragata, Ana Maria Fonseca, Catarina Rodrigues, Daniel Silva, Eduardo Alves, e às dezenas de alunos que têm dado vida à sua redacção. Um exemplo para todos os que estudam na UBI: são tão bons os nossos alunos, e ficam tão bem preparados, que nem hesitamos chamá-los para desempenharem tarefas muito difíceis e que requerem um elevado grau de autonomia e responsabilidade.
Mas o Urbi não nasceu com intenção de crónica. O seu primeiro objectivo era constituir um laboratório vivo onde os alunos do curso de Ciências da Comunicação pudessem praticar Jornalismo em condições em tudo semelhantes às de uma redacção, nomeadamente responsabilidade editorial pelas peças produzidas; periodicidade e timings rígidos para entrega de trabalhos; necessidade de manter um fluxo constante de notícias e informações; e desempenho, no trabalho de campo, semelhante ao dos profissionais do sector. Hoje há mais projectos jornalísticos ligados a cursos de comunicação, mas creio que nenhum se assemelha tanto a uma pequenina e verdadeira redacção como este laboratório que o Urbi é.
Tudo isto também só foi possível, evidentemente, devido a essa bênção dos tempos modernos que é a Internet – permitindo, com a publicação digital, reduzir significativamente os custos de produção dos projectos jornalísticos – ao ponto de hoje já se poder falar em auto-jornalismo. Basta um PC e qualquer um se pode dedicar ao newscast - o que constitui uma das grandes revoluções do século. É desmedida a responsabilidade dos jovens aprendizes de jornalista do Urbi porque, mais do que num jornal de papel, tudo o que fazem, como no poema, «ficará sempre na rede, a libertar-nos da sede».
A difusão digital de notícias permite que estas cheguem a um público verdadeiramente universal, e os motores de busca encarregam-se a todo o momento de desarquivar qualquer facto que seja pertinente. Insisto muito nisto durante as minhas aulas, especialmente quando abordamos questões éticas: nunca sabemos até onde pode chegar um jornal, quem são os seus leitores, que efeitos terá uma dada notícia. Ainda esta semana a revista Visão inclui uma extensa citação de uma entrevista feita em 2001 pelo Urbi a José Sócrates. Quem imaginaria que tínhamos leitores na Visão? São os milagres do arquivo digital online. Um mero arquivo impresso com a crónica da vida ubiana dos últimos cinco anos seria já algo de virtualmente morto, ou pelo menos muito difícil de desarquivar.
Esta edição mensal em papel do Urbi não é mais do que uma evolução na continuidade do projecto inicial: porque também há vantagens do ink-stained que o digital ainda não alcança, nomeadamente portabilidade, e maior conforto durante a leitura. Menos anos, idênticas responsabilidades e cuidados, para que pelo menos na altura do aniversário, esta seja uma ocasião de regozijo. É que Fevereiro é um mês muito agitado para mim - todo recheado de aniversários. Fazem anos os meus filhos, e também este jornal que, em parte, ajudei a criar. Para não abusar dos festejos, ergam os leitores uma taça por mim.