Este ano, o GRETUA apresentou uma nova peça
“Ministério dos Sonhos”
A construção de um imaginário

Os sonhos fazem parte do nosso inconsciente. São neles que sentimos e desejamos aquilo que, à luz do dia, nos parece inexplicável. No entanto, no campo onírico, por vezes, a realidade fala mais alto. Será que os sonhos são comandados? O GRETUA responde a esta questão no Ministério dos Sonhos.


Por Ana Almeida


“Que comece o sonho!” O Grupo Experimental da Universidade de Aveiro (GRETUA) veio à Covilhã mostrar o seu mais recente trabalho, intitulado Ministério dos Sonhos. Inserido no IX Festival de Teatro Universitário da Beira Interior, este espectáculo levou o público a uma viagem ao mundo dos sonhos onde tudo pode acontecer e experimentar. Mas será que é mesmo assim?
Num cenário marcado pela luz negra, um grupo de actores dá voz ao imaginário, adaptando um Ministério para o que supostamente não tem regras: os sonhos. “O objectivo era criar um Ministério dos Sonhos. Há tantos Ministérios! Porque é que este não poderia existir?” – interroga Carolina Rodrigues, encenadora da peça.
A sociedade em que vivemos está marcada por normas a cumprir e sistemas a obedecer. Também no desenrolar do Ministério dos Sonhos o espectador inteira-se que igualmente o campo onírico pode ser influenciado e dominado. “O sonho tem sempre um entrave que é todo este sistema que nos envolve. Há sempre alguém que diz «agora tens que aprender. Lá fora há regras a cumprir.» Nos sonhos isso também acontece. Há sempre uma voz que comanda e não nos deixa distanciar da realidade do dia-a-dia.”- afirma Carolina Rodrigues.
O projecto de construir um Ministério dos Sonhos partiu da encenadora da peça, a qual pretendia mostrar o lado mais real no domínio do fantástico. De uma forma caricata, o GRETUA apresentou “um Ministério que tinha tudo para dar certo. Onde as pessoas vivem como querem e satisfazem os seus desejos. Mas a verdade é que também os funcionários do Ministério acabam por se subjugar às regras.”- explica Carolina Rodrigues.
Apesar deste obstáculo ficcional que diz que a liberdade do sonho não é total, Tiago Silva, actor do GRETUA, não desvirtua a importância dos sonhos. “É preciso sonhar todos os dias, sem nos esquecermos que vivemos numa sociedade real. Só seremos felizes nesta realidade se tivermos sempre em conta os sonhos.”
Para Carolina Rodrigues, o teatro universitário, na sua fase mais experimental, poderá ser uma forma de elevar a cultura nacional, isto porque “é uma maneira de se explorar o teatro enquanto forma artística e também enquanto meio de aprendizagem”. A encenadora defende ainda a incorporação da disciplina de Expressão Dramática no Secundário, de forma a aumentar o interesse pela arte dramaturga mais cedo. “Ás vezes é a provar a maçã que vemos se gostamos ou não. Se começarmos a ‘educar’ as pessoas no sentido de irem ver teatro, talvez resulte.”
Outro modo de levar a população ao teatro é, na opinião de Tiago Silva, a encenação de peças viradas para um público mais diverso e sobre os mais variados temas. “As pessoas não vão ao teatro porque têm a ideia de que é muito elitista. Se fizermos trabalhos que captem a atenção de uma maior audiência, assim aumentamos o público nas salas de teatro.”
Depois da apresentação do Ministério dos Sonhos no passado dia 2 de Março, na cidade covilhanense, o GRETUA irá representar este projecto em palcos espanhóis, em Ourense, no próximo mês de Abril.