Por Filipa Minhós


A jornalista da RTP relatou a sua experiência vivida em terras asiáticas

O dia 26 de Dezembro de 2004 ficou marcado na história mundial por uma das maiores catástrofes naturais, provocando a devastação e miséria no Sudeste Asiático. Daniela Santiago, juntamente com o seu colega José Carlos Ramalho, jornalistas da RTP, foram a primeira equipa portuguesa a chegar a um dos países mais atingidos pelo tsunami, o Sri Lanka. Desta experiência com a duração de 15 dias, resulta um livro escrito por Daniela Santiago. Constitui um relato que pretende mostrar aquilo que fica escondido por detrás das câmaras: os sentimentos e emoções que, perante tamanha desgraça, um jornalista enquanto profissional de informação não pode sentir.
Inferno no Paraíso, 15 dias no Sri Lanka depois do Tsunami, prefaciado por Fernando Nobre, fundador e presidente da Fundação AMI, foi apresentado e lançado no passado dia 26 de Abril em Lisboa, na FNAC. Embora tenha nascido na capital do País, foi na Covilhã que a jornalista passou grande parte da sua infância e adolescência, pelo que a escolha da Universidade da Beira Interior para uma segunda apresentação do seu livro nasceu naturalmente. “A minha família está toda na Covilhã e comecei a fazer jornalismo na Rádio Cova da Beira, no Fundão. Tenho todas as razões para escolher esta cidade para uma apresentação do meu livro, logo oito dias depois de o ter lançado em Lisboa” – afirma Daniela Santiago.
Apresentado por José Geraldes, professor do Departamento de Comunicação e Artes da UBI, o livro consiste num diário, narrado pela própria voz da jornalista, através de uma “escrita simples, mas colorida, que consegue ter um brilho maior do que uma reportagem televisiva”. José Geraldes defende ainda que esta obra pode ser considerada um bom manual de jornalismo, na medida em que apresenta reflexões pessoais sobre o papel dos jornalistas, assentes no bom uso da língua Portuguesa. “A pontuação é bem observada e as frases têm uma cadência oportuna. A ortografia e a gramática estão sempre correctas. Além disso, é um livro de testemunho humano, que nos leva a levantar todas as diferenças em relação a quem sofre” – acrescenta.
Destinada essencialmente aos alunos de Ciências da Comunicação da Universidade, a vinda de Daniela Santiago constituiu um contributo de grande riqueza de experiências. Quem assistiu à apresentação do livro, pôde ainda participar de uma palestra dada pela jornalista e constatar as principais dificuldades que Daniela Santiago enfrentou na sua breve passagem pelo Sudeste Asiático. O cheiro dos cadáveres debaixo dos escombros, as noites mal dormidas de apenas duas ou três horas, devido ao intenso trabalho jornalístico, ou a escassa comida, limitada a mamão, papaia e pão bafiento, são apenas alguns exemplos marcantes para a jornalista. “Quis mostrar com o meu livro aquilo que os telespectadores não vêem. Quis mostrar não a Daniela jornalista, mas a Daniela mulher” – salienta Daniela Santiago.
Todavia, sente um enorme desejo de regressar ao Sri Lanka para fazer uma grande reportagem sobre a reconstrução do país, através dos diversos apoios mundiais. O próprio lucro do seu livro reverte, em parte, a favor da AMI. “Gostava de ter a oportunidade de voltar a reencontrar determinadas pessoas e contar uma história bem diferente daquela que eu já escrevi. ” – conclui.