Um dos personagens mais conhecidos da televisão volta agora aos palcos
Nicolau Breyner volta aos palcos
Choveu Prata no Teatro Cine

Cerca de 20 anos depois, Nicolau Breyner regressa aos palcos. A reentré deste veterano da arte de representar não poderia ter sido maior: Nicolau interpreta um texto de Pedro Bloch, um dos mais consagrados autores de expressão portuguesa. Nem o derby futebolístico das equipas de Lisboa e a cerimónia da Benção das Pastas impediram que, no dia 14 de Maio, tenha chovido prata no Teatro-Cine da Covilhã.


Por Rosa Ramos


“Uma peça somente possível de interpretar por génios da arte de representar”. Foi deste modo que Sérgio Azevedo, produtor da peça, classificou “Esta noite choveu prata”. Constituída por três actos e escrita por Pedro Bloch, um caso sério de sucesso no Brasil e um pouco por todo o mundo, esta peça é feita de pequenos momentos de poesia doce, em que se entrelaçam a comédia e o drama.
Sérgio de Azevedo resolve regressar ao teatro. Depois de mais de 31 peças levadas à cena em várias salas do País, deu-se uma pausa de 14 anos. O filho, também ele Sérgio, incentivou-o a regressar. Lembrou-se de uma peça a que assitira há quase cinquenta anos no Teatro Villaret. Na altura, apaixonara-se perdidamente. Seguidamente, ocorreu-lhe que Nicolau Breyner estava “mais maduro”. As últimas aparições do actor na televisão e no cinema fascinaram-no. Entretanto, também Nicolau andava um pouco enfastiado das andanças da televisão. Foi assim que se proporcionou o regresso dos dois veteranos aos palcos do teatro.
Em “Esta noite choveu prata”, Nicolau Breyner interpreta três personagens em três quadros distintos. Francisco Rodrigues é um português no Rio de Janeiro, extremamente bem sucedido nos negócios, mas com uma vida sentimental perfeitamente destruída. Bloch procurou dar a este português não apenas um ar robusto e rústico, mas também expressões plenas de coração, reveladoras da genuidade e generosidade tipicamente de Portugal. Bonardi é um italiano que procura resumir a alma do seu país. Conta a sua tragédia usando um tom apaixonado, à maneira de um “terceiro acto de ópera”, cujo final é, sempre, grandioso. Camilo, oculto e adormecido na sua chaiselong ao longo dos dois primeiros actos, ergue-se do seu leito após a visita dos amigos, Rodrigues e Bonardi. Estamos perante um velho actor brasileiro, amargurado. Através de um discurso em que se denota um toque de frustração comovente, entende-se que o seu objectivo é, somente, recuperar a amada Celeste. Mesmo depois de descobrir que toda a sua vida íntima havia sido um terrível engano.
“Esta Noite Choveu Prata” faz-nos rir, desde o primeiro momento, para nos comover cada vez mais, ao longo do desenrolar da história, através de um discurso que é eloquente, poético e que, em vários momentos tem a capacidade de nos incomodar e entristecer.
Pedro Bloch escreveu um texto versátil que só poderia exigir um actor igualmente versátil: Nicolau Breyner viajou de forma audaz e segura, ao longo de 43 anos de carreira, pela comédia, pelo drama, pelo musical. Singrou com facilidade nos palcos do teatro, no cinema e na televisão. E de modo a que ninguém possa perder o regresso deste actor ao teatro, “Esta Noite Choveu Prata” voltará à Covilhã, em data ainda a definir.

Ver também: "Entrevista a Nicolau Breyner"