Nuno Costa apresenta demissão
AAUBI, de novo, sem presidente

A Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) está numa situação sem precedentes na sua história. Na última Assembleia-geral de Alunos o Conselho Fiscal emitiu um parecer negativo sobre a actuação económica dos dirigentes estudantis. Nuno Costa apresentou a sua demissão.

Por Eduardo Alves

Costa alega motivos de saúde, "e apenas isso", para mais uma demissão da presidência

“Todos os dirigentes académicos dos últimos cinco anos são responsáveis pelo resultado actual das contas da associação”, as palavras são de Paulo Ferrinho, presidente do Conselho Fiscal da AAUBI. O mesmo que juntamente com Rui Gonçalves, presidente da Assembleia-geral comanda, desde o passado dia 22 de Junho, os destinos da instituição.
O mais recente relatório de contas da AAUBI é uma radiografia feita à “casa azul” e expõe a verdadeira dimensão do buraco financeiro que está instalado no número 39 da Rua Senhora da Paciência. Ainda assim, em declarações ao Urbi, o agora presidente demissionário vai dizendo que a sua saída se deve unicamente, “a problemas de saúde”. Este episódio é o mais recente dos tempos que correm. A servir-lhe de guião está o parecer número cinco do ano de 2005. Este documento espelha “uma sucessão de erros” que têm orientado todos os que passam pela direcção do organismo. Uma explicação encontrada pelo presidente do Conselho Fiscal para a actual situação. Este órgão refere que “esta direcção tomou posse a 16 de Março e em três meses de actividade, a dívida teve um efeito galopante crescendo exponencialmente dos números anteriores, cerca de 50 mil euros, para valores muito próximos dos 120 mil euros, mais de cem por cento”. Números que Costa diz estarem correctos e que têm de ser assumidos. Todavia, o agora presidente demissionário não deixa de classificar o documento apresentado pelo Conselho Fiscal, como algo de “muito duro”.




Semana académica para esquecer

O conselho fiscal, neste momento, está a tentar, juntamente com o gestor da associação, reconstruir e apurar toda a história contabilística da AAUBI de forma a “podermos saber qual o real valor da dívida da academia”, adianta Ferrinho.
Para este responsável máximo pelo Conselho Fiscal, as contas da AAUBI têm sido apresentadas mais ao sabor do subsídio a ser atribuído pelo Instituto Português da Juventude (IPJ) do que “à verdadeira realidade”. Ferrinho recorda que “pela primeira vez na história da AAUBI foi imposto algum rigor contabilístico e financeiro”. Daí que as contas e os saldos das mesmas seja agora do conhecimento geral.
Em termos do que estava mal e necessita correcção, Paulo Ferrinho alude duas situações. A do património da AAUBI onde, “certos objectos que estão registados em nome da associação e que aparecem sucessivamente no orçamento desta, já desapareceram ou que já foram vendidos ou totalmente amortizados”. E também, “os proveitos desta associação no final de cada ano”. Este último ponto faz referência ao facto da AAUBI “embora sendo uma instituição sem fins lucrativos poder apresentar resultados financeiros positivos. Mas estes que são colocados nos orçamentos estão de tal forma desfasados da realidade que se tornam ridículos”.
A gota de água que parece ter provocado um verdadeiro maremoto nas contas da academia foi sem sombra de dúvida para o Conselho Fiscal “uma péssima semana académica”. Os agora responsáveis máximos pela “casa azul” explicam que “este último evento promovido pela AAUBI e que era encarada como uma forma de estabilização das contas resultou num saldo negativo de aproximadamente 50 mil euros”.



Telemóveis, aluguer de viaturas e desporto

Os vários orçamentos "têm apresentado contas matraquilhadas"

Quase tudo parece pesar sobremaneira no orçamento débil da AAUBI. A parcela do deve sobrepõem-se à do haver o que leva “a uma situação sem precedentes”. O cenário agora instalado na “casa azul” é descrito no relatório do Conselho Fiscal como sendo resultado da “incúria e a negligência na gestão da AAUBI, isto após diversos avisos”. A esta situação junta-se “o comportamento dos dirigentes da AAUBI” que segundo os responsáveis pelo Conselho Fiscal “tem-se pautado por um autismo inadjectivável”.
Para que os estudantes tenham uma clara noção do problema, adianta ainda o mesmo documento, “a conta bancária da Caixa Geral de Depósitos encontra-se negativa em valores superiores a oito mil euros”.
A isto acresce ainda a auto-gestão das várias secções. Ferrinho adjectiva esta prática de “incontrolável” e dá o exemplo do desporto. “Só esta secção gasta cerca de 20 mil euros por ano”, assegura. Mais de 6 mil euros são gastos em inscrições e seguros dos atletas, o restante dinheiro passa por outros factores. “Posso dizer que só em aluguer de viaturas para o desporto, no último ano e meio foram gastos 30 mil euros, montante com o qual poderia ter sido adquirida uma nova viatura para a associação”, sublinha o responsável pelo Conselho Fiscal.
Outro dos exemplos de falta de racionalidade na aplicação dos recursos da associação académica é o caso das comunicações. A AAUBI tem em funcionamento nove telemóveis que gastaram cerca de 5 mil euros nos três meses passados. Isto porque “existe um relativo desmazelo dos dirigentes”, acrescenta Ferrinho. O mesmo vai explicando que “a forma de trabalho da AAUBI está toda pensada em função dos telemóveis. Isto é, para se marcar uma reunião de trabalho ou outro tipo de evento utiliza-se telemóvel, para qualquer mínima coisa recorre-se ao telemóvel. Não se conseguem orientar os recursos humanos para a poupança”.




Costa sai devido a problemas de saúde

“Gostaria que ficasse bem esclarecido que a minha saída se deve exclusivamente a alguns problemas físicos e psicológicos”, explica Nuno Costa. As razões do abandono da presidência da AAUBI não se devem às contas “as quais tenho de encarar e com as quais tenho de concordar”, sublinha ainda este estudante de Economia. O até aqui presidente da direcção da AAUBI explica que “devido a motivos de saúde” não pode estar tão presente quanto desejava na academia e daí “optar por sair”. Contudo, este abandono de funções não é novo na gestão de Costa. De recordar que este estudante de Economia foi eleito pela primeira vez para as funções de presidente da AAUBI em Junho do ano passado. Seis meses depois apresenta a sua demissão, atitude que teve o apoio de toda a equipa que trabalhava então com Costa.
Na sua segunda candidatura, volta a ganhar o lugar de mais destaque no seio da AAUBI a 9 de Março passado. No passado dia 22 de Junho, cerca de três meses depois de tomar posse pela segunda vez, abandona a cadeira da presidência da academia estudantil.
Por agora, os destinos da AAUBI estão assegurados por uma comissão coordenada por Paulo Ferrinho, presidente do Conselho Fiscal e por Rui Gonçalves, presidente da Mesa da Assembleia-geral. O programa passa por criar uma legislação mais restrita e contas de gerência públicas e também por transformar a AAUBI numa unidade empresarial, com contabilidade organizada e conduzida pelo gestor da instituição. Novo acto eleitoral, “só em Dezembro”, como estava previsto.

Ler pareceres do Conselho Fiscal

Parecer nº 5

Parecer nº 6