A interioridade ostentada com orgulho
Factor Activo

Os Factor Activo são um grupo único no panorama nacional, não apenas por causa das sonoridades que exploram no álbum de estreia, “Em directo do fim do mundo”, mas por causa da atitude geral que atravessa todas as suas actividades, desde a simples presença na Net, até às investidas por palco e estúdio. Nas palavras do próprio grupo é “o pulsar fortíssimo da revolução” que lhes atravessa o som, que nasce sem dúvida do Hip Hop, mas que é contaminado pelo dub, pela experimentação electrónica e por algo mais que “passa pelo colectivo”.
De facto, o trabalho colectivo em estúdio de recolha de sons, de experimentação com um arsenal imenso de tecnologia analógica e a contaminação da sua música por um subterrâneo pulsar orgânico transformam o som dos Factor Activo numa bem conseguida amálgama de referências que, no final, se transforma num som de autor, único e vibrante.
As 12 faixas de “Em directo do fim do mundo”, de “Beira Baixa Independente” a “Non Merci”, de “O Velho” a “Falta de Sorte”, de “Morto que Dorme” a “Sordos Como El Miedo” vivem de um certo espírito revolucionário depositado nas ideias e nas palavras de uma contestação progressista que transforma a interioridade que ostentam com orgulho em mais uma característica distintiva do seu posicionamento no panorama nacional.
E, no entanto, os Factor Activo não são um grupo novo, caído de paraquedas numa cada vez mais agitada cena independente nacional. Pelo contrário. Este grupo da Covilhã tem já um longo percurso, feito de mais de uma década de calma, mas segura ascensão até ao patamar em que finalmente apresentam um trabalho de maior fôlego.
A primeira maqueta do grupo data de 1992 altura em que, motivados por um programa numa rádio local, começam a depositar em fita as suas primeiras experiências. A década seguinte foi feita de passos calculados, com diversas participações em compilações, incluindo “Portugal Rebelde Vol. 1”, de 1994. As experiências de fusão do Hip Hop com outras linguagens também chegaram bem cedo ao seio dos Factor Activo, quando em 1995 participam na compilação “100” da Antena 3 ao lado dos Lulu Blind, num tema onde as rimas e o rock se colavam de forma intensa. Os anos seguintes foram passados a refinar ideias, a experimentar “line-ups” que ajudassem a transpor para palco fielmente as ideias que se iam cozinhando em estúdio. Por tudo isso, “Em directo do fim do mundo” não é um começo, mas uma continuação de um trabalho que pouquíssimos paralelos encontrará no universo musical português, mas que está sem dúvida sintonizado com alguns dos mais desafiantes estetas da vibração global.
“Em directo do fim do mundo” exigiu muito de quem o construiu e por isso mesmo não se estranha o facto de ser um álbum que também exige muito de quem o ouve. Exige atenção para perceber nas palavras as mensagens que surgem expostas ou camufladas, exige atenção para entender nos detalhes de produção uma visão generosa da música, que não respeita fronteiras e que vive para a expansão.
E este é só o primeiro passo, porque ao vivo, a electrónica, as rimas, a instrumentação real e a interacção do colectivo transformam toda esta música numa bomba de sensações, ruído organizado, exploração espacial e groove vibrante. A emissão é em directo do fim do mundo. Conectem-se!