“Bebé-proveta” no Hospital
Voluntária põe em causa processo

Uma das 12 voluntárias envolvidas no processo que irá dar à Covilhã, até final do ano, o primeiro bebé-proveta, critica a assistência efectuada no Pêro da Covilhã. E diz que os responsáveis andaram “a brincar com as pessoas”. Por isso, já desistiu e procurou ajuda no Porto. Do Hospital, ninguém comenta.

João Alves
NC / Urbi et Orbi

A voluntária diz que depois dos exames efectuados em Janeiro o processo parou

“Não estou com uma idade com a qual possa perder tempo. Foram sete meses que eu andei enganada”. Foi este sentimento que fez com que uma mulher, 36 anos, natural do concelho da Covilhã, que pede anonimato, tivesse desistido de tentar ter um filho através do futuro Centro de Medicina Reprodutiva do Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã. Esta era uma das 12 voluntárias que tinha feito os primeiros testes reprodutivos em Janeiro, mas que se fartou de esperar pois, desde então, diz que o acompanhamento feito às mulheres em causa foi “quase nulo”.
Soraia (nome fictício) conta que, quando soube que na Covilhã se estava a avançar no processo de bebés-proveta ficou entusiasmada, o que a levou a deixar de ir ao Porto onde já estava a iniciar tratamento. A distância pesou na decisão, pelo que se dirigiu à médica de família para saber mais informações sobre este serviço na Cidade Neve. “Eu até pensava que seriam precisas deslocações a Coimbra, mas disseram-me que não seria necessário” conta esta voluntária. Depois de uma primeira consulta, diz que em Janeiro foi atendida pelo especialista brasileiro António Oliani – responsável pela montagem do Centro – e que foi “muito bem recebida”. “Fiz o último exame, tudo estava bem, mas o doutor disse que iria ao Brasil e que em Março deveria voltar para se continuar com o processo. Chegou Março, Abril, perguntei por novidades no hospital, mas nada. Acabei por desistir” conta amargurada.
Depois, ao ler alguns jornais regionais e de âmbito nacional, Soraia indignou-se ao ver notícias que davam conta de que, até final do ano, sairia do Cova da Beira o primeiro bebé-proveta. “ Como é possível virem dizer isso para a praça pública, se acontecem situações destas?” pergunta. E critica: “Andam a brincar com um problema muito sério. Eu já desisti do tratamento aqui e voltei ao Porto. Tudo isto é o exemplo de como o sistema português funciona ao contrário.”
O projecto do Centro de Medicina Reprodutiva iniciou-se este ano e teve os seus primeiros testes às 12 voluntárias em Janeiro. Estas, segundo António Oliani necessitavam de ir “rapidamente para reprodução assistida”, embora avisasse que mais ninguém deveria tentar o tratamento na Covilhã, pois os procedimentos estavam centrados nestas pacientes. Assim, os casais que queiram ter filhos passam a evitar idas a Lisboa, Porto ou Coimbra. O director clínico do Pêro da Covilhã, João Gomes dizia, na altura, que até final do ano esperavam “ter o primeiro proveta” e que os possíveis atrasos poderiam surgir devido à construção da Faculdade de Medicina.
Este projecto centrava-se numa cooperação entre a UBI, o Hospital e a Universidade de São José, no Brasil, que previa o intercâmbio de médicos e meios técnicos. António Aliani vinha para a Covilhã no âmbito desse protocolo entre as três instituições.
Procurados esclarecimentos da administração do Hospital, e em concreto de João Gomes, ninguém se mostrou disponível para esclarecer este caso.