José Geraldes

Renovar a Europa


O não ao Tratado Constitucional mergulhou a Europa numa crise cujas consequências são difíceis de prever. Nós portugueses não podemos alhearmo-nos deste facto, pois fazemos parte da Europa embora com uma dimensão atlântica muito forte. O que acontecer à Europa, terá inevitavelmente repercussões em Portugal.
Daí que acompanhar com interesse as questões europeias, é um dever a que ninguém se pode furtar. Dever de cidadania e participação no nosso futuro colectivo. Assim estaremos mais elucidados e mais preparados para darmos o nosso voto no momento oportuno.
A presidência europeia pertence neste semestre à Grã-Bretanha. Tony Blair, primeiro-ministro inglês, foi muito criticado por ter impedido o acordo sobre o orçamento comunitário na última cimeira europeia. Só para defender os interesses do seu país – dizem os analistas.
Mas o discurso que pronunciou no Parlamento Europeu, dá-nos a ideia de um político de vistas largas sobre a Europa. Sem estar com floreados, Blair disse verdades com as quais todos concordam no seu íntimo mas não têm a coragem de dizer.
Primeiro o objectivo: “Não se trata de escolher “entre mercado livre” e Europa Social mas de assegurar que somos capazes de criar uma Europa que promova emprego e prosperidade. (…) Acredito na Europa com dimensão social muito forte. Jamais a aceitaria exclusivamente como mercado económico. Esta é uma união de valores, solidariedade entre as nações e povos (…) espaço político comum onde vivemos como cidadãos”.
Depois da liderança: “A crise que enfrentamos não é de instituições políticas. É de liderança política. Os europeus estão a colocar perante nós, os políticos, questões difíceis. Preocupam-se com a globalização, segurança no emprego, pensões e níveis de vida. Vêem não só a economia mas também a sociedade a mudar. (…) E desafiam os seus dirigentes para que sejam parte de uma solução e não parte do problema”.
Que fazer então? Balir responde: “Necessitamos de uma Europa Social. Mas terá que ser uma Europa social que funcione e não um modelo social que deixa 20 milhões de desempregados na Europa e níveis de produtividade abaixo dos da América. Temos de dar resposta a uma situação em que a Índia por si só produz mais licenciados em ciência do que a Europa e em que, num qualquer índice relativo de uma economia moderna, estamos a ficar para trás. A modernização do nosso modelo social é inevitável”.
Em concreto, Balir explicita um programa: “Temos que fazer mais e mais depressa – no domínio do emprego, da participação do mercado laboral, dos estudantes que terminam o liceu e da aprendizagem ao longo da vida. Precisamos de mais investimento em conhecimento, em competências, em políticas activas para o mercado laboral, em parques de ciência e inovação, na requalificação urbana e no apoio às pequenas empresas”.
Neste discurso, Blair revela que compreendeu melhor do que Chirac e Schoeder, as razões do não francês e holandês. Resta ver se consegue operar a mudança que se afigura necessária e urgente. Tarefa que não será fácil mas sem a qual a Europa cairá na estagnação.