Incêndio na Serra da Estrela
“Desastre ambiental” no Vale Glaciar

A zona da Serra da Estrela, que era candidata a património da Humanidade, está queimada e totalmente descaracterizada. O grande incêndio que lavrou no Parque Natural é classificado de “desastre ambiental”. Ao todo, mais de dois mil e 500 hectares arderam, naquele que é considerado o pior fogo dos últimos 20 anos.

NC / Urbi et Orbi

Os responsáveis pelo Parque Natural da Serra da Estrela ainda estão a contabilizar o grau de destruição

O Vale Glaciar do Zêzere sempre foi considerado por todos os que o visitam como um dos locais mais bonitos da Serra da Estrela. Este ano estava até previsto o avanço com uma candidatura a Património da Humanidade, um processo apoiado pela Universidade da Beira Interior em parceria com a Região de Turismo da Serra da Estrela e do Parque Natural da Serra da Estrela. Agora o que podia vir a tornar-se Património da Humanidade está destruído pelas chamas, devido ao grande incêndio que deflagrou em Manteigas, na Serra, na passada semana, e que durante três dias não deu descanso aos mais de 200 bombeiros que o combateram, apoiados por meios aéreos. Valeu, porém, São Pedro, que mandou uns pingos de chuva que ajudaram a extinguir um fogo que é considerado, pelo director do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), Fernando Matos, o pior dos últimos 20 anos naquela área protegida.
Este responsável manifesta a sua preocupação pela fauna e a flora afectada, salientando que os cursos de água também podem ser prejudicados. A área ardida calculada, até ao momento, é de dois mil e 500 hectares . Fernando Matos lamenta o facto de terem sido atingidos quase todos os habitats protegidos que constam da lista da Rede Natura 2000, como por exemplo o zimbro e os medronhais, embora diga ter “fé” que se possa, nos próximos anos, assistir à regeneração natural de alguns habitats. Porém, o director do PNSE tem consciência que alguns vão “levar anos a recuperar”. Daí, diz, não ser excessivo classificar este incêndio de “desastre ambiental”. As chamas destruíram ainda quatro casas, duas de pastores e as outras que serviam de residência de férias.

Plano de Emergência activado

O município de Manteigas chegou mesmo a activar o Plano Municipal de Emergência, na noite de segunda-feira passada, o que permitiu um reforço substancial dos meios no terreno. Manteigas esteve cercada durante toda a noite, com os parques de campismo a serem evacuados e alguns turistas a abandonarem as unidades hoteleiras onde estavam instalados. Aliás, a vertente turística é agora um dos sectores que será afectado pois, segundo Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, uma das zonas mais mediáticas da Serra foi atingida, o que trará “consequências do ponto de vista turístico”.
As condições atmosféricas adversas e o terreno muito acidentado dificultaram muito a tarefa dos bombeiros, pelo que Fernando Matos diz não querer apontar culpas a ninguém pois “fez-se tudo o que era possível”.
Já o autarca de Manteigas, José Manuel Biscaia, lamentava o facto de nenhum membro do Governo se ter deslocado ao local para acompanhar os trabalhos, sítio onde esteve o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que defendeu um profunda alteração na propriedade da floresta portuguesa. “É preciso evitar que os incêndios se tornem numa espécie de fado nacional” afirma.