José Geraldes

Leigos: que é isso?


O concílio Vaticano II pôs em relevo a missão dos leigos na Igreja e no mundo. Mas para compreendermos bem esta missão, importa saber de que leigos se trata. Pois quando se diz que se é leigo em medicina, isso significa que se é ignorante na matéria.
A palavra leigo vem do latim laicus . Em geral, designa o conjunto do povo cristão. Mas o termo já foi utilizado para designar tudo o que escapa à influência confessional como, por exemplo, escola laica ou laicismo.
Em linguagem de teologia católica, em concreto, leigo é aquele que não recebeu qualquer ministério ordenado.
Antes do Vaticano II, o papel dos leigos era passivo na vida da Igreja e limitava-se apenas a cumprir ordens emanadas da autoridade eclesiástica. Obedecia-se sem diálogo. O concílio veio dar aos leigos um papel insubstituível no anúncio e no testemunho da fé. E um estatuto de cristão adulto.
Nos vários documentos conciliares, a missão dos leigos é explícita nos modos a utilizar e nos objectivos a alcançar. Mas uma afirmação básica se impõe. Embora haja diversidade de funções, a missão é a mesma.
Então, qual a missão específica dos leigos? O documento sobre os leigos responde : “ Animar interiormente, à maneira de fermento, as realidades temporais”.Estas “realidades temporais” contemplam “o testemunho de Cristo na sua vida, na família, no grupo social, no meio profissional”. E ainda a “expressão do homem novo no meio social e cultural da sua pátria, em conformidade com as tradições nacionais”.
A responsabilidade dos leigos no mundo é de tal ordem que “ o cristão que descuida os seus deveres temporais, falta os seus deveres para com o próximo e até para com o próprio Deus”.
Por aqui se vê a importância de haver um laicado consciente dos seus deveres. Já não se trata de se ser cristão cumprindo apenas os chamados deveres piedosos mas de se ser cristão empenhado em contribuir para um mundo mais justo e fraterno na promoção dos valores da solidariedade e da paz. Aliás, a Igreja não pode levar a bom termo a sua missão sem um laicado autêntico em colaboração com a Hierarquia.
Bento XVI, nas Jornadas Mundiais da Juventude em Colónia, chamou a atenção para o facto de se transformar a religião cristã num “produto de consumo”. Ora o consumismo religioso nada tem a ver com a missão que os leigos devem desempenhar na evangelização da sociedade. E o exercício da sua influência nas decisões em instâncias temporais.
Para que haja um laicado consciente, a formação é pedra de toque. Formação na educação da fé e formação sistemática para aquisição dos conhecimentos teológicos. Claro que se trata de um trabalho que nunca está terminado. E que se impõe promover regularmente.
As Jornadas de Formação para Leigos que se vão realizar na Guarda têm por objectivo a criação de um laicado que assuma as suas responsabilidades na hora actual que não se compadece com amadorismos. Laicado que se empenhe numa acção dinâmica para criar o homem novo de que os tempos de hoje precisam.