Revivido em Alpedrinha
O solitário caminho dos pastores

Alpedrinha regressou ao passado. Os trilhos percorridos pelos pastores, com os seus rebanhos, aquando da transumância, foram recordados num evento – Chocalhos 2005 – cheio de música e tradições.

NC / Urbi et Orbi


Pastores e ovelhas voltaram a ser o ponto central deste evento


Chocalhos, gaitas, pífaros, ovelhas, cajados e mantas. Todo um conjunto de instrumentos que, ao longo dos anos, fizeram parte da indumentária dos pastores. Ainda o são, só que a actividade, na Beira Interior, tem vindo a perder peso na economia local. E para muitos, não passa já de uma recordação que é preciso não deixar morrer, de modo a mostrar aos mais novos o duro que foi a vida pelo cimo das serras e montes, para se ganhar a vida. Conservar esta tradição é, assim, um dos objectivos da Câmara Municipal do Fundão, que levou de novo efeito o Festival dos Caminhos da Transumância – Chocalhos 2005, que decorreu no passado fim-de-semana, em Alpedrinha.
A arte da pastorícia remonta, segundo alguns historiadores, à época do Neolítico, altura em que o homem consegue a domesticação de animais e, tendo-os à sua guarda, os alimenta para depois... se alimentar. Na Península Ibérica, desde tempos recuados, podem observar-se movimentos naturais e sazonais de gados herbívoros que abandonam o território de origem para se alimentarem de pastos frescos em solos de outras zonas. Os pastores, agarrados ao seu cajado, passavam dias, semanas e meses por lá, ao frio, ao vento, para engordarem o seu gado. Uma actividade com tradição na zona da Serra da Estrela, desde o distrito da Guarda ao de Castelo Branco. Esta actividade ancestral é a transumância, de que só resta, praticamente, o nome, pois poucos ou nenhuns pastores continuam a fazer estas rotas pelas serras da região. A transumância uniu, desde sempre, geografias, paisagens, costumes e gentes. Ou seja, “um valor patrimonial de excelência”, segundo a autarquia fundanense, que importa reproduzir e conservar. O "Chocalhos" acaba por ser a "face mais visível" de uma linha cultural, traçada nos últimos quatro anos, no âmbito da cooperação transfronteiriça Interreg. Recorde-se que há bem pouco tempo a Câmara do Fundão assinou um protocolo com Penamacor e Idanha-a-Nova, e mais quatro entidades espanholas, para uma candidatura ao programa Interreg, destinado a projectos transfronteiriços, que contempla a continuação do projecto. No caso dos municípios portugueses o acordo prevê também a requalificação dos antigos trilhos utilizados pelos pastores para que possam ser utilizados para fins turísticos. Como já acontece actualmente em Espanha, onde esses caminhos estão classificados a nível nacional e se encontram sinalizados.

Passeio pedestre no domingo

O programa desta edição iniciou-se, sexta-feira, 16, com um acampamento e uma feira, com a actuação de bombos e acordeonistas. Durante todo o festival as ruas de Alpedrinha encheram-se de vida, houve artesãos e muitos produtos genuínos feitos por mãos muito experientes. E o som dos chocalhos foi uma presença assídua, assim como as cantigas ao desafio.
Sábado, 17, realizou-se pela manhã um passeio pedestre com uma visita a uma queijaria e à tarde um debate, na Capela do Leão, sobre o tema. Foi também lançado o livro “Fundão, terra de bom queijo”, do gastrónomo Mapone.
No domingo, 18, ovelhas e pastores concentraram-se no Fundão para o passeio “Rota da Transumância”, que foi feito numa calçada romana antiga e que recordou os trilhos dos solitários pastores, que assim conseguiam o seu sustento. Depois de saírem da sede de concelho, homens e animais seguiram em direcção a Alcongosta até chegarem a Alpedrinha.