Festival Y
Listas motivam espectáculo de performance

Listagens de tarefas, rotinas, vontades e desejos. Filipa Francisco lê-as e interpreta-as com erotismo e magnetismo.

Por Liliana Ferreira

Leitura e expressão corporal marcam a diferença na peça do Festival Y

No palco do Teatro-Cine da Covilhã, Filipa Francisco apresenta um espectáculo de performance em tudo original. Apesar do trabalho em si ter a duração total de dezassete horas, para o efeito apresentou-se um breve excerto. Durante 60 minutos a performance recita e dá vida a listas de tudo um pouco que são no fundo vivências visíveis e invisíveis de todos os indivíduos.
No âmbito do Festival Y a Covilhã recebeu na sexta-feira passada, dia 11 de Outubro, mais um espectáculo que alia texto, voz e performance numa só pessoa. “Leitura de Listas” coloca em palco espectadores e artista que partilham assim um mesmo espaço. Este é ao mesmo tempo local de assistência e acção no qual actriz e plateia retribuem sensações e jogos de olhares.
Filipa conduz o espectáculo tendo por base alguns livros que dispõe sobre uma mesa. De um a um enuncia o tema, abre as páginas das listagens e começa a recitá-los para o restrito público que estrategicamente se dispõe à sua volta. Apresenta os textos variando a adaptação do corpo e voz a diferentes listas, criando desta forma diversos ambientes. Para tal, executa alterações no ritmo e tom de voz, difere a movimentação em palco e conjuga-os a diversos efeitos de luz e som.
Em palco com a artista o público conta com momentos de ansiedade, intimismo, descontracção, erotismo, reflectividade e interactividade proporcionados por um nulo distanciamento espectador/actor. Cada assistente é uma peça viva do puzzle de vivências que Filipa pretende criar. Lembranças, rotinas, pensamentos e desejos vão sendo descortinados e a identificação com as variadas listas é inevitável. Segundo André Lepecki, trata-se de um espectáculo que dispõe de diversas possibilidades de mapeamento de vivências, umas mais familiares, algumas menos prováveis, outras mais ou menos falsas ou ridículas, num tempo que de todas elas se encontra tão carregado”.
Filipa Francisco conta já com um vasto curriculum. Fundadora da Companhia A Torneira, fez formação em Dança, realizou diversos workshops de interpretação, voz e performance em Portugal e no estrangeiro. Dos seus trabalhos, destaca, entre outras, as peças: “Nu Meio” (Prémio Bienal Jovens Criadores), “O Nariz do meu pai” (apresentado em Frankfurt), “There I stand” (ciclo sobre o expressionismo, na Culturgest), “Transgarden” (Festival X Lisboa).