Dentro de 60 dias
Fiper volta à laboração

Já nas mãos de dois empresários locais, António Lopes e José Robalo, a Fiper, fábrica de tecelagem do Teixoso, vai voltar à laboração dentro de dois meses. A proposta de viabilização foi aprovada em Assembleia de Credores, na passada semana. O pagamento da totalidade dos créditos aos trabalhadores e às bancas também está assegurado.

NC / Urbi et Orbi

A empresa com sede no Teixoso vai agora voltar a trabalhar

O futuro da Fiper, unidade têxtil de fiação do Teixoso, ficou finalmente resolvido, na passada semana, em Assembleia de Credores. A proposta de viabilização da empresa apresentada por António Lopes e José Robalo foi votada por todos os credores e aprovada no Tribunal da Covilhã por maioria.
A Fiper encerrou para férias em Agosto e não voltou a abrir portas por falta de encomendas, pelo que a administração invocou o pedido de insolvência. O administrador judicial propôs a venda do património para liquidação das dívidas, mas os dois empresários locais apresentaram uma proposta de viabilização alternativa. A proposta prevê o pagamento da totalidade dos créditos devidos, num valor total de um milhão e 400 mil euros. Desta forma, aos cerca de 84 ex-trabalhadores cabe um valor de perto de um milhão e 70 mil euros. O restante dinheiro será destinado às bancas, com um pagamento de 15 por cento do total dos créditos.
Os pagamentos serão feitos por intermédio do administrador judicial da empresa, comprometendo-se os novos sócios a fazer os depósitos à ordem através da conta da massa insolvente, até cinco dias úteis, em relação aos trabalhadores, e até 25 dias, relativamente aos montantes devidos à banca. Por outro lado, a devedora garante ainda o regresso da fábrica à laboração no prazo de dois meses, 60 dias, funcionando a partir daí por tempo indeterminado. António Lopes assegura, no entanto, que “a empresa não deixará de laborar ao 61º dia”.
O mesmo empresário, que adquiriu recentemente o edifício da Garagem de São João, acrescenta que a sua ideia passa por “investir no ramo imobiliário, uma vez que a empresa tinha já 43 mil metros quadrados desanexados para uma empresa imobiliária, e, consequentemente, viabilizar a empresa, à qual pretendo juntar uma secção de tecelagem”. Assim sendo, uma fatia de 70 por cento passa para a sociedade imobiliária, sob alçada de António Lopes, enquanto que os restantes 30 por cento ficam para José Robalo, um dos antigos sócios da fábrica.
Para que a proposta fosse aprovada seria necessário o voto a favor de pelo menos dois terços dos trabalhadores da empresa. O que de facto aconteceu. Todos os trabalhadores da empresa presentes na Assembleia votaram no sentido da aprovação do plano. Também os credores comuns Santader, Banco Espírito Santo e Millenium votaram a favor da proposta.
Já a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Popular, o Banco Nacional de Crédito Imobiliário e o Banco Português de Investimento votaram contra a viabilização do plano. Aliás, o representante do Banco Português do Investimento reclamou mesmo a forma como se procedeu à votação do plano. Segundo o responsável, “a proposta só foi aprovada graças ao voto dos trabalhadores. Muitos deles não podem ter direito ao voto, porque não viram os seus créditos reconhecidos. Logo, os dois terços de trabalhadores votantes necessários para aprovação do plano não seriam atingidos”. Algo que Pedro Gama da Silva, juiz titular do processo, esclarece: “Uma vez que todos os credores reduziram os seus créditos, julgo que resulta daí que os créditos dos trabalhadores se encontram modificados pelo presente plano e, como tal, têm direito de voto. A deliberação não padece de qualquer irregularidade ou anulabilidade”.
A saída do Tribunal da Covilhã, António Lopes estava visivelmente satisfeito. “A partir do momento em que os trabalhadores tiveram conhecimento desta proposta, não tive grande dúvidas de que esta seria a sua reacção, uma vez que eles só teriam a perder com a outra solução”, frisa. E adianta que, quando pensar em contratar trabalhadores para a nova empresa, não hesitará em ir buscar os funcionários da antiga Fiper.
Já Luís Garra, do Sindicato Têxtil da Beira Baixa, garante que esta é a melhor solução para os trabalhadores. “Os funcionários foram despedidos contra a sua vontade. Com este plano não só está garantido o pagamento dos créditos, como se promete que a fábrica volte à laboração”, salienta.