José Geraldes

Problemas das freguesias


Desemprego, toxicodependência, alcoolismo e pobreza, eis os quatro problemas mais importantes que os portugueses consideram existir nas suas freguesias de residência. Estes dados constam do trabalho Estudo de caracterização social, económica e cultural das freguesias de Portuga l Continental.
Feito em 396 freguesias, o estudo é da responsabilidade da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), com execução no terreno pela Associação SEIVA (Associação ao Serviço da Vida ), sob a direcção de Maria Isabel Monteiro, freira das Irmãs Doroteias, e coordenação científica de Adelino Duarte Gomes, docente da Universidade de Coimbra. Uma síntese dos resultados do estudo foi divulgada pelo Público a 17 de Outubro último.
Para a elaboração do estudo, foram realizadas 256 entrevistas a representantes de juntas de freguesias e de instituições de solidariedade e ouvidas 23 mil pessoas.
Segundo os elementos disponíveis, verifica-se que não há inovação na resposta aos problemas existentes e que “as situações limite de pobreza se encontram no mundo rural”. E quanto mais se avança do Litoral para o Interior, mais os problemas tendem a agravar-se.
Na região Centro, são referidos como problemas maiores, a solidão, as carências económicas e os idosos sem apoio. Mas numa ordem de classificação, os dois problemas mais importantes apontados dizem respeito ao desemprego (36,7 por cento) e à droga (30,8 por cento).
Na opinião de muitos representantes de juntas e de responsáveis de organismos de solidariedade, a pobreza, o desemprego e a falta de apoios aparecem como prioridades a ter em conta.
Para os utentes dos serviços de apoio social, as respostas aos seus problemas não podem ser consideradas “satisfatórias”. A “lentidão”, o “mau atendimento” e a “burocracia” figuram entre os principais empecilhos a eliminar. Isto para 57,4 por cento na região Centro.
Outro dado interessante do estudo revela que mais de um quinto dos inquiridos têm como rendimento mensal familiar 350 euros em média por mês. Na região Centro, trata-se de 34,6 por cento dos inquiridos.
Quanto aos problemas existentes na família, citam-se “os idosos sem apoio”, “violência conjugal” – os mais comuns – e ainda “más relações entre pais e filhos” e “a falta de apoio a dependentes e deficientes”. Daí a ideia de ser necessário realizar sessões de formação familiar.
Segundo as respostas colhidas, os serviços disponibilizados pelas instituições de solidariedade social e juntas das freguesias abarcam sobretudo jardins-de-infância, creches, apoio domiciliário, centros de dia, lares e prestações à população carenciada.
Verdadeira e realista “radiografia da situação actual” dos problemas das freguesias, o presente estudo exigia, segundo os responsáveis, “projectos locais para responder às necessidades”. No entanto, “a informação recolhida foi muito desaproveitada”. E era necessário, de acordo com Maria Isabel Monteiro, “ uma mudança tendo por base a freguesia”. Ou seja, dotar cada freguesia de equipamentos e instituições para responder às populações. Mas isto equivalia a uma “revolução” na Segurança Social.
Fala-se muito de erradicação da pobreza. De combate à exclusão social. Mas haverá vontade política de mudar as coisas?
O presente estudo pretendeu este objectivo. Mas, afinal, mais uma vez a inércia vence. E o dinamismo exigido cai por terra. O apoio aos carenciados de afectos e de integração social merece o empenhamento de toda a sociedade.