José Geraldes

Esperança, verdade e paz


1. O ano de 2005 já passou e com ele recordações que nos devem ajudar para o futuro. O velho provérbio “ano novo, vida nova” mantém sempre a sua actualidade, pois há a necessidade continuada de procurar novos caminhos e tomar iniciativas diferentes.
Perante o desenrolar da História, as atitudes passivas não se toleram. E cada um deve contribuir com a sua quota-parte para que a sociedade seja melhor. Nem que seja por pequenas acções que podem ter a virtualidade de desencadear iniciativas de grande envergadura. Em qualquer campo da realidade social.
Portugal inicia 2006 com muitos problemas a enfrentar. Com a tragédia do desemprego em crescimento, uma prática de novo-riquismo impossível de manter e uma mentalidade nesta linha a eliminar, o endividamento cada vez maior, precisa-se uma terapia de choque para que as coisas tomem outro rumo.
Mas ninguém quer abdicar de nada. Os interesses instalados dominam tudo desde o poder local, passando pelas corporações, sindicatos a organismos governamentais. A corrupção grassa como erva daninha e não se vê grande progresso para a travar. A justiça é o que todo a gente sabe com uma crise a minar o seu desempenho.
E o País continua “adiado” como lembrou Jorge Sampaio na mensagem de Ano Novo. Realidade, aliás, já referida por Ramalho Eanes quando foi presidente da República. E já se passaram anos e anos.
Resta-nos ter esperança para que 2006 traga melhores dias para os portugueses do que 2005. Há tímidos sinais de a economia crescer embora muito menos do que o resto da União Europeia. Mas a economia não é tudo.
A mudança dos comportamentos impõe-se como condição de base para a produtividade, o abandono da mentalidade dos subsídios, a erradicação da pobreza e a construção de um Portugal onde haja solidariedade real.
E, como dizia Péguy que a “esperança espanta o próprio Deus”, que a esperança dê um novo ânimo ao País.
2. “Na verdade, a paz”. Este o tema da primeira mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz. A iniciar o texto, uma convicção: “Sempre que o homem se deixa iluminar pelo esplendor da verdade, empreende quase naturalmente o caminho da paz”.
Com a escolha da verdade na paz, Bento XVI – ele próprio o diz – quis honrar o nome Bento em homenagem a S. Bento construtor da paz na Europa e Bento XV que considerou a I Guerra Mundial como um “massacre inútil”.
A paz é apresentada não como simples ausência da guerra mas como fruto da justiça. E onde se realize o bem-estar dos cidadãos. Em convivência séria. Daí todas as relações humanas terem como base a transparência.
A mentira e a hipocrisia levam à discórdia e às desavenças mesmo no seio das famílias. A fidelidade à palavra dada surge como elemento que não pode ser ignorado.
Assim o perdão e a reconciliação humana são caminhos a percorrer par eliminar os obstáculos que possam aparecer.
O niilismo e o fundamentalismo religioso desestabilizam o processo da verdade da paz, chegando mesmo a negá-la. O terrorismo então compromete toda a procura da paz.
Olhando o futuro Bento XVI mostra-se optimista, pois os conflitos armados diminuíram. Mas lança um alerta para não se cair na ingenuidade. E como prova, aduz os enormes gastos militares e o “comércio sem pré próspero das armas”.
A paz é um bem frágil. Por isso, só com a verdade de Deus e do homem se constrói a verdadeira paz.
Quem ousa negar a sua colaboração para a paz.