José Geraldes

País perdido


Analistas políticos, comentadores dos media, sindicatos, associações, peritos em economia e até o Governo estão de acordo na realidade que nos entra pelos olhos dentro: o País não está bem.
Desperdiçámos os fundos da União Europeia para crescer. Mas os dinheiros em vez de terem sido investidos em actividades que gerassem emprego e riqueza, foram utilizados para enriquecimento pessoal e para comprar casas de residência secundária e carros de alta cilindrada.
Criou-se a ideia de que o Estado resolvia todos os nossos problemas. E ainda hoje há muitos iluminados que julgam que assim deve ser.
Temos, agora, até 2013, 8,8 milhões de euros por dia para recuperar o atraso em relação aos países da União Europeia. É a última oportunidade que nos é oferecida para sair do impasse em que estamos.
Se este dinheiro não for muito bem utilizado, vamos cair com toda a certeza na “apagada e vil tristeza” de que falava Camões. E pode-se pôr a hipótese de sobrevivermos como País.
Medina Carreira, ex-ministro das Finanças, demonstrou, em texto indesmentível, que “só uma mirífica e muito rápida aceleração do crescimento económico poderia evitar-nos o que está à vista”. E este crescimento não se vislumbra.
Miguel Cadilhe, também ex-ministro das Finanças, no seu livro recentemente publicado Sobrepeso do Estado em Portugal fala em termos semelhantes escrevendo que só com reformas drásticas se pode sair da situação actual.
Os portugueses não dão mostras de mudar os seus hábitos. Os jovens convenceram-se de que podem ter tudo sem sacrifícios. Mas isso deve-se à educação que os pais lhe deram.
A classe média interiorizou que não pode perder as conquistas dos últimos 30 anos: segundas casas nos arredores das cidades ou nas praias, férias no Brasil ou nos países exóticos, televisão de plasma, aparelhagens topo de gama, crédito barato, saúde quase gratuita, jeeps de grandes marcas. Ora tudo isto o País não pode satisfazer nas condições actuais.
Temos de convir que a classe política não dá mostras de estar muito preocupada pensando só no seu umbigo. Pelos menos é o que se depreende das suas atitudes de uma passividade e inconsciência face à situação dramática do País.
O estado de Portugal faz-nos lembrar um texto de Eça de Queirós escrito em 1871 no primeiro número de As Farpas . Vale a pena ler e reler o escrito do grande escritor.
“O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência, Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (…) O Estado é considerado na sua acção fiscal como um inimigo. (…) A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o País está perdido”.
As semelhanças são de uma evidência total. Os portugueses têm fatalmente de mudar se querem um lugar ao sol na União Europeia.
Eis um assunto para pensar na campanha para as eleições presidenciais. Esperemos, ao menos, no poder da magistratura de influência. Para que os portugueses mudem. De verdade.