Temperaturas baixas, frio, mas chuva, nem vê-la. Tem sido este o tempo registado na Beira Interior, que tem deixado os agricultores apreensivos quanto às culturas do ano 2006, tendo em conta o grave ano de seca que foi 2005. E segundo quem anda no campo, este ano pode não ser melhor.
Segundo o último relatório do Instituto da Água (INAG), divulgado a 16 de Janeiro, a seca ainda não acabou. E para António Gomes, presidente da Associação de Beneficiários do Regadio da Cova da Beira, a capacidade que actualmente a Barragem da Meimoa tem, de apenas 5,5 milhões de metros cúbicos de água acima da quota mínima (valor abaixo do qual a água está reservada para abastecimento público ao concelho do Fundão) não deixa antever dias fáceis. Este responsável salienta mesmo que só arriscará uma nova campanha de rega se a albufeira chegar aos 11 milhões.
Segundo o relatório final do INAG, da Comissão para a seca em Portugal, que foi apresentado em Janeiro, houve em Portugal, em 2005, um grave défice de precipitação. Na região, por exemplo, a região da Serra da Estrela teve níveis tão baixos que não há memória de algo igual nos últimos 100 anos. Nas Penhas Douradas, em 105 anos, este foi o ano hidrológico mais baixo.
Houve tanta falta de água na Beira Interior que concelhos como Oleiros, Celorico da Beira e Vila Velha de Ródão estiveram entre os 14 concelhos do País que mais licenças para novas captações de água requereram. Na zona Sul do distrito houve problemas no sistema Multimunicipal gerido pela Águas do Centro, devido à seca prolongada em municípios como Idanha, Sertã, Oleiros e Vila Velha de Ródão. No concelho raiano houve mesmo ameaça de ruptura total no abastecimento de água.
Mais a Norte as coisas não estiveram melhores. Segundo o relatório, a situação de seca afectou algumas zonas do Sistema Multimunicipal da Águas do Zêzere e Côa, com destaque para “a situação crítica em termos de reserva da albufeira da Meimoa”, que serve o abastecimento público de água do concelho de Penamacor e parte do Fundão, para além do bloco de rega da Meimoa. Aliás, na agricultura, em Agosto, houve mesmo necessidade de recorrer ao transporte de água até às explorações agrícolas, de forma a garantir o abeberamento dos animais.
Por isso, os agricultores da região rezam para que chova nos próximos dois meses. António Gomes diz que nessa altura a entidade que representa terá que tomar decisões, com a assembleia de regantes a reunir e, se houver os tais 11 milhões de metros cúbicos de água na Barragem da Meimoa, os canais do regadio vão ser abastecidos a partir de 1 de Abril - aquela que até 2005 era a data normal de início das campanhas. Se o nível for inferior, este início da campanha terá que ser adiado para 1 de Maio.