Por Lília Carvalho e Sofia Amaral



"Quando acharmos que os jovens não acompanham a actualidade política estamos perdidos"

Urbi@Orbi – Enquanto dava aulas ao Ensino Primário licenciou-se em Geografia, área da qual obteve o grau de mestre. Com uma carreira inicialmente direccionada para o Ensino, o que o fez interessar-se pela política?
Acácio Pinto –
Foi uma vontade para fazer coisas diferentes. A minha ideia era dar mais e melhores condições de vida às pessoas da minha terra. Mudar o estado das ruas, o abastecimento de água e coisas desse género.
Ter uma contribuição concreta para a mudança do estado de coisas, foi sempre o meu objectivo, esta é a política que eu entendo. Mas nunca consegui ganhar as eleições na Câmara Municipal de Sátão, respeito obviamente os resultados eleitorais. As pessoas fizeram as opções que melhor entenderam.

U@O – Havia então necessidade de mudanças?
A.P. – Percebia que as coisas não estavam segundo o meu entendimento. O que fiz foi protagonizar a liderança de alguns movimentos de intervenção e actuar no sentido de mudar para melhor.

U@O – E actualmente. Considera que as coisas estão no bom caminho?
A.P. – Os processos de desenvolvimento não são lineares, todavia vai havendo algumas melhorias globais. Por exemplo, o desenvolvimento do concelho de Sátão não é hoje o que era há 20 anos. Estes processos são complexos e os resultados nunca são os idealizados por uma entidade, mas sim construídos por várias.
Nesta perspectiva, as coisas evoluíram favoravelmente, mas quer a nível do concelho, quer a nível nacional, há ainda muito a ser afinado.




"O desenvolvimento do concelho de Satão não é hoje o que era há 20 anos"

U@O – Acerca do interesse ou não interesse da juventude actual pela política, o que pensa?
A.P. – Os jovens têm interesse pela política. Têm sempre uma forma de intervenção muito genuína e generosa. Ao dialogar com alguns jovens revejo-me muitas vezes nos meus 20 e tal anos. Estas são idades de projecto, de sonho, de alguma utopia. Os jovens continuam, e bem, empenhados em contribuir a vários níveis: político, associativo, cultural, desportivo, recreativo.
Mesmo pelo distrito há bastantes associações onde intervêm de acordo com os seus objectivos, de fazer coisas que possam vir a melhorar a vida das suas populações.

U@O – Estarão os jovens atraídos pela política?
A.P. – Numa perspectiva geral, estão. Os jovens estão sempre atraídos e empenhados em processos de mudança e intervenção. Seja a nível da política, ou de vertentes como cultura e ambiente. Sou completamente defensor desta perspectiva. Têm consciência plena dos problemas do mundo de hoje.

U@O – Acha que os jovens estão plenamente cientes da situação actual do País?
A.P. – Completamente. Quando nós não acharmos isso, estamos perdidos como futuro e como sociedade. No fundo, os jovens acabam por estar integrados numa sociedade que nós vamos forjando, construindo. Os jovens, como elementos que interagem com pessoas mais idosas e com eles próprios, absorvem novos paradigmas. À sua medida são também agentes de construção.

U@O – Foi vereador de câmara e entretanto foi fazendo outras coisas. Como conseguiu conciliar tantos cargos em tão pouco tempo?
A.P. – Convém mencionar que nunca fui vereador a tempo inteiro, só ia às reuniões. Como nunca ganhei as eleições, fui vereador da oposição durante 11 anos, daí que exercesse em simultâneo a minha profissão de professor. Agora as coisas vão-se conciliando.



"Nunca me passou pela cabeça vir a desempenhar este cargo"

"Não senti dificuldades em nenhum dos cargos que exerci até hoje"

U@O – Como surge aqui o cargo de governador civil?
A.P. – Basicamente o que sou em termos profissionais é professor. Quanto ao cargo de autarca, fui confrontado com a questão de ser candidato, tive a confiança do Partido Socialista local, distrital e nacional para ser candidato à câmara. Agora surgiu o convite para governador civil. O Governo convidou-me através do ministro António Costa e respondi favoravelmente a este desafio.

U@O – O que o move?
A.P. – É dar o meu contributo em função da melhoria das situações e para que as políticas do Governo possam ser as melhores para o distrito de Viseu. Dar um eco das políticas governativas no distrito.

U@O – O cargo de governador civil estava já nas suas expectativas?
A.P. – Nunca me passou pela cabeça vir a desempenhar este cargo. Com a vitória do PS nas eleições de Fevereiro deste ano fui convidado para tal. Ao fim de reflectir aceitei com todo o agrado e estou a desempenhar estas funções com toda a vitalidade, encarando-as como um bom desafio.

U@O – Sente-se à vontade no exercício desta nova função?
A.P. – Sinto, muito à vontade. Não senti dificuldades em nenhum dos cargos que exerci até hoje. As pessoas têm é que estar com gosto e sentido de responsabilidade. Entrego-me à função que estou a desempenhar e tento ter a máxima responsabilidade no desempenho da mesma.



"Uma vastidão de área ardida e muitos prejuízos"

U@O – O distrito de Viseu foi dos mais assolados com fogos durante o Verão. Em que estado ficou o distrito?
A.P. – Viseu teve uma situação muito complicada. Tal como em outros pontos do País, este foi um dos anos em que houve maior área ardida no distrito. Cerca de 30 mil hectares de mato e floresta foram resultado de, aproximadamente, 4 mil incêndios até 31 de Outubro. Foi algo absolutamente inimaginável. No IP5, no troço Mangualde - Chãs de Tavares, as chamas passaram de um lado ao outro. Uma vastidão de área ardida e muitos prejuízos, muitos prejuízos mesmo.

U@O – Que espécie de prejuízos? Quais os concelhos mais afectados?
A.P. – Arderam algumas habitações, das quais três no concelho de Nelas. Arderam muitas casas de arrumações agrícolas isoladas nos terrenos. Os concelhos mais afectados no distrito foram sobretudo São Pedro do Sul e Castro Daire onde arderam cerca de 10 mil hectares. Vouzela, Penalva do Castelo e Carregal do Sal foram também muito fustigados pelos incêndios.

U@O – Como classifica o impacto dos fogos na população?
A.P. – Foi um impacto muito forte. Por exemplo em Castro Daire , São Pedro do Sul e Tondela houve necessidade de retirar pessoas das suas aldeias como medida de prevenção. Evacuar uma aldeia não é fácil. Na Serra de São Macário, S. Pedro do Sul, foi necessário inclusivamente evacuar perto de 30 pessoas de helicóptero. Estavam completamente cercadas pelo incêndio e pelo fumo, não havia outra forma de as tirar de lá.

U@O – Como referiu, algumas pessoas ficaram desalojadas…
A.P. – Três famílias tiveram necessidade de ficar alojadas em casas de familiares. Neste momento, o Instituto Nacional de Habitação (INH) juntamente com a Câmara Municipal de Nelas, têm em curso um processo de apoio às mesmas.

U@O – Que diz em relação à actuação dos bombeiros?
A.P. – Foi excelente. A situação só não foi pior devido à admirável intervenção dos bombeiros. As autarquias locais, os militares e as forças de segurança em geral, sobretudo a Guarda Nacional Republicana, também colaboraram com os seus meios. O trabalho de equipa destas instituições em muito favoreceu o combate às chamas. Posso afirmar que fizemos bem esta coordenação entre todas as forças.

U@O – Para o próximo ano afigura-se uma melhoria?
A.P. – O Governo está a lançar, pela primeira vez, os concursos de meios aéreos com antecedência. Estamos a trabalhar no sentido de um próximo Verão mais sossegado. Alterações na legislação e medidas como limpeza dos caminhos, das imediações das habitações e das aldeias, estão a ser tomadas de modo a evitar ocorrências piores no ano que se avizinha.





Perfil



Acácio Santos da Fonseca Pinto, 46 anos, é natural do concelho de Sátão, distrito de Viseu. Começou por dar aulas ao Ensino Primário e como trabalhador-estudante licenciou-se em Geografia pela Universidade de Coimbra. Obteve o mestrado nesta área há dois anos.
Fundou o jornal A Gazeta de Sátão em 1987 do qual fez parte durante 14 anos. O início da sua intervenção politica data de 1982, como candidato à Junta de Freguesia de Romãs.
Desempenhou vários cargos: foi vereador, a tempo parcial, na Câmara Municipal de Sátão durante 11 anos, director de um centro de formação de professores, coordenador adjunto do Centro da Área Educativa (CAE) de Viseu, chefe de gabinete do Secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária, Jorge Junqueiro, em 2000 e presidente da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência de Viseu. Actualmente exerce o cargo de Governador Civil, “um trabalho de divulgação e coordenação das políticas do governo”. “Passei por todos os degraus”, afirma.